segunda-feira, 10 de março de 2014

Lições da Escritura para a Apologética (por Mike Riccardi)

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Quando os cristãos pensam e falam sobre apologética – sobre defender a fé cristã contra os ataques dos que não creem – pode ser que às vezes a própria Escritura seja uma das últimas coisas que passam por suas mentes.  Quando empenhados em defender a fé, muitos de nós pensam imediatamente em arqueologia, argumentos filosóficos, provas científicas e contra-argumentos, canonicidade e crítica textual, e em refutações para os clássicos argumentos ateístas. Embora todas essas coisas tenham seu lugar em um defensor da fé coerente e bem preparado, é triste que as Escrituras sejam um dos últimos lugares que pensamos para informar nossa metodologia apologética. Mas, de fato existem muitas passagens na Bíblia que nos ensinam muito a respeito da defesa da fé e da argumentação com os incrédulos. Eu gostaria de explorar algumas dessas lições hoje.

Uma epistemologia dependente de Deus

Uma das tarefas da apologética é determinar um terreno adequado para acreditar em algo. Essa disciplina é chamada epistemologia – o estudo de como sabemos o que sabemos. Provérbios 1.7 nos informa de forma simples que o temor do Senhor é o princípio da sabedoria. Nessa pequena afirmação, Deus nos declara que o único alicerce seguro para saber qualquer coisa propriamente é temer e adorar a Ele. Rejeitar a existência de Deus – ou mesmo aceitar a existência de Deus e falhar em adorá-lo como Ele requer – impede qualquer um de saber qualquer coisa sadia. É por isso que os Salmos repetem que é tolo o que disse, “Não há Deus” (Sl. 14.1; 53.1).

Uma antropologia bíblica

De fato, a Bíblia nos diz que Deus claramente se fez conhecido no mundo, então não há desculpa para rejeitar sua existência. Romanos 1.20 diz: “Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis.” Além disso, todas as pessoas são criadas à imagem de Deus (Gn 1.26-27) e com a lei de Deus escrita em seus corações, de forma que sua própria consciência naturalmente os informa de sua rejeição a Ele (Rm 2.14-15) Esses textos nos falam que o problema primário do incrédulo é ético, não intelectual. O problema com a mente do incrédulo não é que lhe falta a informação certa ou evidências o suficiente. Em vez disso, o incrédulo sabe a verdade, mas ativamente suprime a verdade em injustiça (Rom 1.18) porque ele ama o seu pecado (João 3.20). Toda evidencia a qual ele é apresentado será filtrada por uma visão pecaminosa, porque, como Paulo disse em 2 Coríntios 4.4, a mente deles foi cegada para a  glória. Você pode apresentar evidências para um homem cego todo dia, mas ao menos que sua cegueira seja curada, ele nunca será capaz de avaliar aquilo corretamente.

Implicações da depravação para a apologética

Isso leva o cristão a pelo menos três conclusões. Primeira, nosso método apologético é inextricavelmente ligado à pregação do evangelho. O Espírito Santo deve abrir os olhos cegos antes que a evidência possa ser interpretada corretamente (2 Coríntios 4.6; cf. 1 Coríntios 2.14). Segunda, não existe tal coisa como pensamento neutro e em nossa apologética não devemos nunca tratar um incrédulo como se ele raciocinasse autonomamente. Todos têm pressuposições. Nós devemos ter em mente as pressuposições do incrédulo quando o enfrentamos, e nós não devemos render as nossas – pois elas são as pressuposições das Escrituras, que são, por assim dizer, as pressuposições da realidade. Finalmente, como nosso pensamento é tão infectado de pecado, o único fundamento próprio para o conhecimento é a Revelação de Deus. As Escrituras devem ser fundamentais nos nossos encontros apologéticos.

1 Pedro 3.15

Um texto com boas implicações para apologética é 1 Pedro 3.15. Pedro esperava que a resistência dos cristãos diante de uma grande perseguição iria fazer com que os “de fora” perguntassem a eles o porquê deles serem tão esperançosos no meio de tanto sofrimento. Ele diz a ele, “Santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós.” Isso nos ensina muitas coisas. Primeiro, cristãos devem sempre estar preparados para defender sua fé. Isso significa que nós devemos fazer toda preparação necessária para estarmos equipados a este respeito.  Segundo, isso presume que deve ser feita uma defesa contra os ataques da fé. Uma função maior da apologética é responder mal entendidos e interpretações errôneas do Cristianismo. Terceiro, nos ensina sobre nossa atitude. Muitos dos cristãos enfrentam a apologética com o espirito combativo e controverso. Ao invés disso, o cristão apologista deve defender a fé com mansidão e temor.

Defensiva e ofensiva

A apologética não está apenas preocupada em defender a fé de ataques exteriores, mas também refutar as reivindicações do sistema não-cristão. Paulo usa linguagem gráfica para tornar esse ponto claro: “Destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo.” (2 Co 10.5). Então, nossa tarefa não é apenas mostrar que o Cristianismo é sensato, mas demonstrar que outras visões de mundo são insensatas. De acordo com as Escrituras, apologética é tanto defensiva quanto ofensiva – tanto negativa quanto positiva.

A necessidade de sabedoria

Além disso, Provérbios 26.4-5 nos ensina que a sabedoria é requerida na apologética. Existem certas ocasiões nas quais nós não devemos responder um tolo de acordo com sua tolice, para não ser como ele. Ainda terão outros momentos nos quais de fato nós devemos responder um tolo de acordo com sua tolice, para ele não ser sábio aos seus próprios olhos. Nós devemos orar por sabedoria para sabermos quando um ou outro é mais apropriado a cada situação (cf. Tiago 1.5).

Exemplos bíblicos

As Escrituras também nos dão alguns exemplos observáveis da apologética cristã. Nos versos de abertura de seu Evangelho, Lucas torna o propósito de sua escrita conhecido: ele queria que Teófilo soubesse a exata verdade sobre as coisas que ele foi ensinado a respeito de Jesus Cristo (1.4). Para Lucas, isso poderia ser conseguido através de uma cuidadosa observação de “tudo” (1.3) – inclusive testemunhas presentes (1.2) – e apresentado em “ordem consecutiva”. Lucas estava “arrumando sua bagagem”, por assim dizer, sobre a realidade e veracidade da doutrina de Cristo.
Na interação de Jesus com os fariseus, em Mateus 12, nós O vemos contradizendo a reivindicação que não corresponde com a realidade (12.24) por argumentos fundamentados. Ele reduz o argumento deles ao absurdo (12.25-26), os mostra inconsistentes (12.27) e os oferece seus milagres como prova de que Ele é o Rei (12.28). Cada um desses componentes fornece uma visão dentro de uma metodologia apologética bíblica.
Em Atos 17, podemos aprender do Apostolo Paulo com sua pregação de Cristo aos filósofos em Atenas. Nós devemos entender que ele argumentou especificamente o contrário das pressuposições de seus ouvintes (At 17.24-26,31), sem fazer nenhuma tentativa de achar algum ponto inicial de concordância e, em seguida, buscar um método neutro de argumentação. Quando ele discutia com os judeus que, pelo menos na teoria, aceitavam a autoridade da Escritura, ele começa com a Escritura como evidência do senhorio de Jesus. Ainda com pagãos que não tinham acesso a Bíblia hebraica, ele argumentava a partir da criação e os desafiava a abandonarem sua idolatria. Em ambos os casos, seu quadro epistemológico não mudou, já que o evangelho que ele pregava era “de acordo com as Escrituras” (1 Co 15.3-4). Seu trabalho era pregar a verdade, dar razões para o seu ponto de vista, apresentar o evangelho de Cristo e exigir o arrependimento (At 17.30).
Você consegue pensar em algum outro texto bíblico que informa a maneira de defender a fé de uma vez por todas entregue a todos os santos?


Extraído de: 
http://reforma21.org/artigos/licoes-da-escritura-para-a-apologetica.html