sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O controverso coração de Faraó (por Clóvis Gonçalves)

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Extraído de: 5calvinistas



“Pois disse a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder, e para que seja anunciado o meu nome por toda a terra. Logo ele tem misericórdia de quem quer, e a quem quer endurece” 
(Romanos 9:17-18).

Muitos crentes não gostam da ideia de Deus endurecer o coração de alguém. Aliás, nem mesmo apreciam o fato de que Deus use de misericórdia com quem Ele quiser, ao invés de com todo mundo. Em que pese o desagrado de muitos, a Bíblia não apenas afirma que Deus tem misericórdia de quem Ele quer, mas também que endurece a quem deseja endurecer. Um exemplo deste último caso é Faraó.


É líquido e certo o fato do coração de Faraó ter sido o endurecido. Reiteradas vezes a Bíblia diz “endureceu-se o coração de Faraó, e não os ouviu” (Êxodo 7:3, 22; 8:19; 9:35). Endurecer significa fortalecer, prevalecer, firmar, tornar resoluto, persistente. Numa palavra bíblica: tornar obstinado: “o coração de Faraó estava obstinado, e não deixou ir o povo” (Êxodo 9:7). A questão é: quem endureceu o coração do rei?


Se nos deixarmos levar por nossos compromissos teológicos previamente assumidos, corremos os risco de selecionar e considerar relevante apenas as passagens que dizem que o próprio Faraó endureceu seu coração, ou então somente aquelas que afirmam que Deus endureceu o coração do rei do Egito. Ainda que um despimento completo de preconceito seja virtualmente impossível, convém que examinemos todas as passagens que falam do endurecimento do coração de Faraó, antes de afirmarmos uma posição.


A primeira referência direta (vide Êxodo 3:19 para uma indireta) ao endurecimento do coração de Faraó está em Êxodo 4:21“Eu endurecerei o seu coração, e ele não deixará ir o povo”. Essa declaração divina se repete mais duas vezes (Êxodo 14:4, 17). Além disso as escrituras dizem “Jeová endureceu o coração de Faraó, e este não ouviu; como Jeová havia dito a Moisés” (Êxodo 9:12). Novamente, a declaração se repete algumas vezes (Êxodo 10:20; 11:10; 14:8). Não há como negar que Deus endureceu o coração de Faraó. E para os que dizem que Moisés estava se expressando condicionado ao modo de pensamento hebraico, Deus mesmo diz “Eu endureci o seu coração e o coração dos seus servos, para que eu manifeste estes meus prodígios no meio deles” (Êxodo 10:1).


Mas há também aquelas passagens que afirmam que Faraó endureceu o seu próprio coração e que não devem ser ignoradas. A primeira delas está em Êxodo 8:15“Mas vendo Faraó que havia descanso, endureceu o seu coração, e não os ouviu; como Jeová havia dito”. Um pouco adiante diz “endureceu Faraó ainda esta vez o seu coração” (Êxodo 8:32) e finalmente “tendo Faraó visto que a chuva e a saraiva e os trovões haviam cessado, tornou a pecar e endureceu o seu coração” (Êxodo 9:34). Essas passagens bíblicas tomadas em seu conjunto devem nos levar à conclusão que tanto Deus endureceu o coração de Faraó, como ele próprio endurece-se a si mesmo. Porém, alguma coisa mais poderia ser dita a esse respeito.


Primeiro, a decisão de Deus de endurecer o coração de Faraó antecede o endurecimento por parte de Faraó. Deus tomou a iniciativa de endurecer o coração dele (Êxodo 4:21). Tanto é assim que quando a Bíblia refere-se ao endurecimento por parte de Faraó, acresce “como Jeová havia dito”. Segundo, o número de referências ao endurecimento produzido por Deus é significativamente maior. Estatísticamente falando, Deus endurece mais vezes que Faraó. Em terceiro lugar, no endurecimento de Faraó Deus age e ele reage. Deus não fez maravilhas no Egito para amolecer o coração duro de Faraó, fez sim para manifestar a Sua glória através do endurecimento gradual do coração do rei. Deus tinha um propósito, e o endurecimento do coração do rei servia a esse propósito. Finalmente, a escritura coloca a decisão de quem será endurecido e quem receberá misericórdia nas mãos de Deus. Conforme Paulo declara, depende da vontade de Deus e não da vontade do homem receber misericórdia ou ser endurecido.


Concluímos dizendo que Deus é soberano e exerce Seu domínio no coração do homem, seja dispondo para o bem, seja endurecendo para a Sua glória. Há várias passagens que colocam isso acima de qualquer dúvida sensata. E que não obstante isso ser assim, o homem ainda é responsável pelo próprio endurecimento do coração. Não entender como isso se dá não invalida o que a Bíblia diz a esse respeito e tampouco é desculpa para rejeitar ou tentar amenizar o que a Escritura afirma categoricamente.


Soli Deo Gloria


Clóvis Gonçalves é blogueiro do Cinco Solas e escreve no 5 Calvinistas às segundas-feiras.




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