segunda-feira, 17 de junho de 2013

A Perpetuidade da Lei de Deus (C. H. Spurgeon) - Parte 01 de 05

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Extraído de: Projetospurgeon.com.br


“Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra.”Mateus 5:18.
É dito que aquele que compreende os dois Pactos é um teólogo, e isto é, sem dúvida, verdadeiro. Posso também afirmar que o homem conhecedor das posições relativas da Lei e do Evangelho possui as chaves da situação no que diz respeito à doutrina. O relacionamento da Lei comigo e como ela me condena; o relacionamento do Evangelho comigo e como ele, se sou um crente, me justifica – são dois pontos que todo cristão deveria entender com clareza. Neste aspecto, ele não deve enxergar “homens andando como árvores”, senão poderá causar a si mesmo grande angústia e cair em erros dolorosos ao seu coração e prejudiciais à sua vida. Fazer confusão entre a Lei e o Evangelho é ensinar algo que não é Lei nem Evangelho, mas o oposto de ambos. Que o Espírito de Deus seja o nosso mestre e Sua Palavra nosso livro de lições, e assim não nos enganaremos.
Grandes erros têm sido cometidos com respeito à Lei. Não muito tempo atrás houve aqueles perto de nós afirmando que a lei está totalmente anulada e abolida. Ensinaram abertamente que os crentes não tinham o compromisso de tomar a Lei moral como regra de suas vidas. O que teria sido pecado em outros homens não foi considerado pecado neles. Que Deus nos livre de tal Antinomianismo! Não estamos sob a Lei como o meio de salvação, mas nos deleitamos em vê-la na mão de Cristo e desejamos obedecer ao Senhor em todas as coisas.
Outros se depararam com ensinos sobre a atenuação e a flexibilização da Lei por Jesus. Alguns, de fato, afirmaram que a Lei perfeita de Deus era muito árdua para seres humanos imperfeitos e, para tal, Ele nos deu uma regra mais branda e mais fácil. Estes trilham perigosamente os limites de um erro terrível, embora acreditamos que possuem muito pouca consciência deste fato.
Infelizmente, temos encontrado autores os quais foram muito além deste fato e têm murmurado severamente contra a Lei. Ó, as duras palavras que às vezes leio contra a sagrada Lei de Deus! Quão distintas daquelas ditas pelo Apóstolo: “Por conseguinte, a lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom.” Quão diferentes do espírito de reverência que o impeliu dizer: “Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus.” Você sabe como Davi amava a Lei de Deus e como cantava seus louvores ao longo dos Salmos. O coração de todo cristão verdadeiro tem completa reverência pela Lei do Senhor. Ela é perfeita, não, é a própria perfeição! Cremos que nunca teremos alcançado a perfeição até que estejamos conformados a ela de modo completo. Uma santificação aquém da total conformidade à Lei não pode, na verdade, ser considerada perfeita santificação, porque qualquer falta de total conformidade à Lei perfeita é pecado.
Que o Espírito de Deus nos auxilie enquanto, imitando nosso Senhor Jesus, nos esforçamos para engrandecer a Lei. Com base em nosso texto, concluo dois fatos sobre os quais discursarei agora. O primeiro é que a Lei de Deus é eterna—“Até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra.” Significa que, mesmo nos mínimos detalhes, ela deve permanecer até que tudo se cumpra. Em segundo lugar, percebemos que a Lei de Deus deve ser consumada — Nem “um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra.” Aquele que veio introduzir a dispensação do Evangelho afirma não ter vindo para revogar a Lei, mas sim para cumpri-la.
I. Primeiro, A LEI DE DEUS DEVE SER ETERNA. Não existe nem anulação nem emenda. Não deve ser abrandada ou ajustada a nossa condição decaída, mas cada um dos justos juízos do Senhor permanece para sempre. Ressaltarei três razões que irão alicerçar este ensino. Em primeiro lugar, nosso Senhor Jesus declara que não veio para abolir a Lei. Suas palavras são totalmente pontuais —“Não penseis que vim revogar a Lei ou os profetas: não vim para revogar, vim para cumprir.” E Paulo nos afirma com respeito ao Evangelho: “Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma: Antes, confirmamos a lei.” (Romanos 3:31) O Evangelho é o meio para o firme estabelecimento e vindicação da Lei de Deus. Jesus não veio para mudar a Lei, mas para explicá-la, e este mero fato mostra que ela permanece, porque não é necessário explicar algo que está anulado.
A respeito de uma particularidade sobre a qual havia um pouco de cerimonialismo envolvido – em outras palavras, guardar o Sábado – nosso Senhor a ampliou e mostrou que o pensamento judeu não era verdadeiro. Os fariseus proibiam até mesmo as obras de necessidade e misericórdia, como debulhar espigas de milho para matar a fome e curar os enfermos. Nosso Senhor Jesus mostrou que proibir estas atitudes não estava, de modo algum, em conformidade com a mente de Deus. Ao distorcer a Palavra e levar uma observância externa ao extremo, perderam o sentido da Lei Sabática, a qual sugeria obras de misericórdia como verdadeiramente o santificar do dia. Mostrou que o descanso sabático não era mera inatividade: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.” Apontou para os sacerdotes que laboravam com esforço oferecendo sacrifícios e deles afirmou: “os sacerdotes no templo violam o Sábado e ficam sem culpa.” Estavam prestando serviço Divino e estavam dentro da Lei.
Ao fazer frente a uma falha comum, tratou de realizar no Sábado alguns de Seus mais notáveis milagres ; e embora este fato tenha instigado enorme ira contra Ele, como se fosse um descumpridor da Lei, todavia Jesus o fez para que pudessem enxergar que o Sábado foi feito para o homem e não o homem para o Sábado; que era um dia dedicado a honrar a Deus e a abençoar os homens! Oh, se estes soubessem como guardar o Sábado espiritual, aliviando todo o trabalho servil e todo o trabalho realizado para si próprio!  O descanso da fé é o verdadeiro Sábado e o serviço de Deus é a mais apropriada santificação do dia. Oh, se este dia fosse totalmente dedicado a servir a Deus e a fazer o bem! A essência do ensino do nosso Senhor era que os trabalhos de necessidade, de misericórdia e de piedade são permitidos no Sábado. Explicou a Lei naquela e em outras circunstâncias, ainda que a explicação não alterou o comando, apenas removeu o ranço da tradição que se formou sobre ela. Deste modo, por explicar a lei, Ele a confirmou! Não tinha a intenção de aboli-la, do contrário não precisaria tê-la esclarecido.

Além de explicá-la, o Mestre foi mais longe – evidenciou seu caráter espiritual, o qual os Judeus não haviam observado. Pensavam, por exemplo, que a ordem “Não matarás” simplesmente proibia o assassinato e o homicídio culposo. No entanto, o Salvador mostrou que a ira inexplicada viola a Lei de Deus e que as ofensas, maldições, e todas as outras demonstrações de inimizade e maldade estão proibidas pelo Mandamento. Sabiam que não deveriam cometer adultério, mas não entendiam que um desejo lascivo seria uma ofensa à regra; até o momento em que o Salvador afirmou: “Qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar já em seu coração cometeu adultério com ela.” Demonstrou que o pensamento malicioso é pecado; que a imaginação imoral polui o coração; que um desejo desumano é culpado aos olhos do Altíssimo! Por certo este fato não significava a anulação da Lei de Deus, mas uma maravilhosa demonstração da sua poderosa soberania e do seu caráter perscrutador! Os Fariseus imaginavam que se guardassem suas mãos, pés e línguas, tudo estaria resolvido. Mas Jesus mostrou que pensamento, imaginação, desejo, memória – tudo – deve ser sujeitado à vontade de Deus ou então a Lei não era cumprida.


>>> continua..