O Propósito Eterno de Deus é Executado no Tempo
W. E. Best
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
O propósito de Deus na eternidade e suas realizações no tempo são da mesma extensão. Por conseguinte, seu propósito que foi fundamentado na soberania, ordenado pela sabedoria infinita, ratificado pela onipotência, e cimentado com imutabilidade nunca pode falhar. Um dos grandes exemplos bíblicos do propósito de Deus e seu cumprimento sendo da mesma extensão é Romanos 8:28-30. Paulo prova à mente iluminada que o pré-ordenado é igual ao predestinado, o predestinado igual ao chamado, o chamado igual ao justificado, e o justificado igual ao glorificado em número. Por conseguinte, o axioma matemático “objetos que são iguais a um mesmo objeto, são também iguais entre si” se aplica aqui. O propósito de Deus para a lei natural é necessário para sustentar nossa criação física. Além do mais, seu propósito da lei espiritual é igualmente necessário para sustentar a criação espiritual num estado de propósito e progresso fixado até que alcance sua consumação na semelhança de Jesus Cristo.
A teologia da livre graça permanece quase sozinha em sua ênfase sobre o propósito eterno de Deus. A teologia do livre-arbítrio não coloca o propósito eterno de Deus em primeiro plano. Portanto, diferente da teologia da livre graça, a teologia do livre-arbítrio é menos teológica e mais antropológica. Ela começa com a vontade do homem e não com a vontade de Deus. Aqueles que abraçam a teologia do livre-arbítrio, quando encurralados por aqueles que ensinam a livre graça, estão sempre levantando a mesma questão que Paulo antecipou em Romanos 9:14 – “Acaso Deus é injusto?”. Paulo ficou tão indignado com o questionamento da justiça de Deus que removeu a pergunta com uma negação decisiva. As mentes depravadas acusam Deus de ser desigual em propor salvar alguns e não todos. João, em sua visão do Apocalipse de Jesus Cristo, ouviu a mistura do cântico de Moisés com o cântico do Cordeiro: “…Grandes e maravilhosas são as tuas obras, Senhor Deus todo- poderoso. Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações” (Ap. 15:3). Não há desigualdade nos caminhos de Deus. Como o homem, no seu alto nível de depravação, pode se levantar e questionar a justiça de Deus? Não existe nenhum superior a quem Deus deva prestar contas dos seus feitos. Portanto, Deus não pode ser culpado do que o homem entende como arbitrariedade.
Advogados da teologia do livre-arbítrio são incapazes de fazer a distinção apropriada entre o propósito de Deus e o seu mandamento. Embora os dois difiram, não são contraditórios. O propósito de Deus é desde a eternidade, mas o seu mandamento é para o homem no tempo. O propósito eterno de Deus não pode impedido, pois ele é o que Deus deseja. Por outro lado, o mandamento de Deus é o que o homem deveria fazer, mas não faz. É absurdo o homem dizer que ele pode propor rejeitar o propósito eterno de Deus. Isso é o mesmo que dizer que o homem pode propor derrotar o propósito de Deus, que é diretamente o oposto do que Deus disse por meio de Isaías: “…O que eu disse, isso eu farei acontecer; o que planejei, isso farei” (Is. 46:11). O mandamento de Deus é geral, mas seu propósito é particular. Portanto, Deus “ordena que todos, em todo lugar, se arrependam” (Atos 17:30), mas ele não propôs conceder “arrependimento para vida” a todos os homens (Atos 11:18). A inabilidade do homem, à parte da graça, de se arrepender é culpa sua. Por conseguinte, Deus não pode ser culpado pela depravação do homem. O propósito de Deus, e não o seu mandamento, é a garantia que todas as coisas serão realizadas de acordo com o seu conselho.
A palavra grega para “propósito” é prothesis , que significa apresentação de algo ou um propósito. Esse substantivo é usado um total de doze vezes no Novo Testamento. É usado num sentido físico quando é traduzido como “pães da proposição” (Mt. 12:4; Mc. 2:26; Lucas 6:4; Hb. 9:2). É usado num sentido intelectual quando é traduzido como “propósito”.
Esse uso é dividido em duas divisões:
(1) Existem três referências aos homens (Atos 11:23; 27:13; 2 Tm. 3:10).
(2) Existem cinco referências ao propósito eterno de Deus na salvação dos eleitos (Rm. 8:28; 9:11; Ef. 1:11; 3:11; 2 Tm. 1:9).
O verbo protithemi é usado somente três vezes (Rm. 1:13; 3:25; Ef. 1:9). Ele é uma palavra composta da proposição pro , que significa “antes”, e o verbo tithemi , que significa “colocar” ou “propor”.
Portanto, Deus sabia exatamente o que faria, e a coisa proposta acontecerá com toda a certeza.
Os “pães da proposição” eram exibidos publicamente para lembrar Israel do maná fornecido a eles em sua jornada no deserto. Doze pães eram colocados na mesa dos pães da proposição para lembrar o sacerdote, que era representante dos israelitas, da provisão de Deus para todas as doze tribos em sua jornada no deserto. Esse é o sentido físico no qual a palavra prothesis é usada.
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