sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Tempo - distensão da alma humana (FINAL)

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2.2.1 O Tempo e o Espírito 
Na busca de explicar como o tempo passa e estende, Agostinho parte da experiência da medida do tempo. No espírito do homem três coisas nos são mostradas: a expectação, a atenção e a memória. Aquilo que o homem espera passa através do domínio da atenção para o domínio da memória.
Temos então uma explicação para a duração do tempo, pois um futuro longo é a longa expectação do futuro. O futuro não pode ser longo , pois ele não existe ainda, mas a expectativa deste futuro é, e pode ser, longa na alma humana. O tempo passado não pode ser longo, pois não é mais; o que existe é a longa lembrança do passado.  Quanto ao presente, cujo ser carece de espaço, não pode ser longo, pois não tem extensão, mas a atenção perdura e por meio dela continua a retirar-se o que era presente. 
Quando vou dizer algo, antes de iniciar minha fala, a minha expectação se estende a toda ela. Quando começo, minha memória dilata-se, colhendo tudo o que passa da expectação para o pretérito. A vida deste meu ato divide-se em memória e expectação. A minha atenção está presente e por ela passa o que era futuro, para se tornar pretérito. A alma detém a duração da fala e a mantém na memória.
A vida do homem é agora uma distensão. O homem pode agora medir o tempo, sabendo o que faz.


CONCLUSÃO
Toda nossa experiência de vida baseia-se na suposição elementar de que o tempo pode ser dividido em passado, presente e futuro. E o ritmo incessante do tempo empurra para frente o momento atual, aquilo que chamamos agora. O tempo passa sem parar e converte o futuro em passado. O momento presente, situado no meio de ambos, é apenas um instante desprovido de extensão e espaço.
No nível psicológico, nossa experiência consciente de tempo parece estar claramente delimitada. Consideramos que os acontecimentos do mundo estão correndo e não apenas que existem. Além disso, eles ocorrem de forma ordenada. Um momento se segue sistematicamente ao outro. É inconcebível a idéia de adormecer na terça e acordar na segunda.
Ao meditarmos sobre o tempo, temos três zonas claramente diferenciadas: passado, presente e futuro. Tudo isto é tão simples, quase banal. E, no entanto, chega a causar confusão em determinadas ocasiões.
Agostinho traça em seu trabalho um roteiro interessante. Partindo da constatação de que o tempo fenomenológico não pode ser aceito pela filosofia, busca estruturar seu conceito partindo da busca pelo ser do tempo e chega à sua essência.
Tempo não é eternidade, pois esta é atributo divino. O tempo teve sua origem com a criação, sendo propriedade da criatura e não do criador. O ser do tempo não pode ser encontrado senão na alma humana, pois as dimensões do tempo pertencem ao não ser, exceto o presente cujo ser não possui espaço. O futuro ainda não é, e o passado já não é mais. O ser do tempo tem seu lugar na alma humana: a lembrança presente das coisas passadas, visão presente das coisas presentes e esperança presente das coisas futuras.
Após salvar o ser do tempo, justificando a história e a previsão, Agostinho se lança em uma nova elucubração: que é o tempo? A busca por sua essência. Em toda sua procura constata que o tempo é uma distensão da alma humana. O tempo não é o movimento do corpo ou dos astros, mas estes existem no tempo. O tempo existe na alma humana, sendo uma dilatação (distentio). É o espírito que encurta ou alonga o tempo, onde através da expectação, da atenção e da memória vivência os momentos de seu ser. A alma espera, dirige-se para e se recorda. Estes são os modos da alma.
Há um processo no campo de percepção do futuro e do passado que se faz pelo agora do espírito. A memória é a conservação daquilo que já não é, enquanto que a expectação é a antecipação daquilo que não é. O tempo é, portanto uma impressão da alma.



Extraído de:
http://www.monergismo.com/textos/tempo/tempo_distensao_da_alma_humana.pdf














E aí, entendeu tudo???? rs