quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Tempo - distensão da alma humana (parte 04)

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1.5 O tempo é essencialmente humano 
Para compreendermos como o tempo está ligado ao humano, deveremos antes nos lembrar da visão de Agostinho sobre o homem - sua antropologia. O seu conceito de tempo está intrinsecamente ligado ao modo como ele vislumbra a criatura, um Ser limitado, finito e corrompido. Este Ser nunca poderia ser na eternidade, mas apenas no tempo, pois juntamente com ele foi criado. O ser criado existe no tempo, vivendo na mudança, na variação e no movimento; e todo o movimento ocorre no tempo.

“Existem, pois o céu e a terra. Em voz alta dizem-nos que foram criados, porque estão sujeitos a mudanças e vicissitudes.”

Há coisas que foram criadas, por isso existem no tempo, mas também há coisas que mudam e variam, que não foram criadas, porém ainda assim existem no tempo. Tal coisa advém da criação primária e estavam nela contidas no início, como sementes. 

“Mas o que não foi criado, e, contudo existe, nada pode conter, que antes já não existisse no tempo.”

Não há nada de novo após a criação. Agostinho parece se apegar ao sentido hebraico da palavra Bereshith que significa a criação do nada, de matéria inexistente. Tudo o que existe, ou foi criado ou adveio de algo criado, mas nunca se criou por si. Se o Criador do mundo é também o criador do tempo, não podendo logicamente estar no tempo, pois se assim fosse, o tempo seria eterno e não passaria, como seria o tempo da criatura? O tempo é, portanto uma propriedade da criatura, sendo uma característica dos seres finitos, cujo ser não pode ser todo ao mesmo tempo, limitando-se ao passar da história. Após compreender a natureza da eternidade, será então fácil percebermos porque a criatura não pode ser eterna. Portanto, se aquilo que foi criado está sob o tempo e não sob a eternidade, tudo o que existe, exceto Deus está sob o tempo ou no tempo. 
O homem permanece em um devir contínuo, sujeito às modificações da imperfeição. Sendo uma criatura finita, limita-se ao mundo finito. O seu ser não pode ser todo simultaneamente, tendo necessidade, por isso, de uma existência sucessiva e contínua.