sexta-feira, 15 de abril de 2011

A Genealogia de Jesus Cristo

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Princípios de interpretação

Para melhor compreender a genealogia de Jesus, é importante conhecer algumas das noções que os Judeus tinham em relação ao registro de seus ancestrais.


Direitos de propriedade

Os Judeus mantinham registros genealógicos com muito cuidado. Faziam isto principalmente porque os direitos de propriedade em Israel estavam ligados à herança de família.

Quando os Judeus se instalaram em Israel, as tribos receberam partes da terra como sua herança (Josué 14 a 21). As famílias dentro de cada tribo receberam partes dessa terra, que poderia ser cultivada, desenvolvida ou vendida. A cada 50 anos uma família sem posses poderia requisitar de volta a parte da terra que seus ancestrais tinham recebido na distribuição original (Lv 25:10).

Pessoas que não pudessem descrever sua linha familiar não possuíam herança na nação de Israel, sendo tratados como estrangeiros sem posses. Este fator contribuía fortemente para a preocupação dos Judeus com genealogias.


Profecias

Profecias também contribuíam para o interesse dos Judeus em genealogias. Deus havia prometido a vários indivíduos que o Messias haveria de ser um de seus descendentes. Para provar a descendência do Messias era importante manter registros genealógicos com precisão.


O uso da palavra “Filho”

Os Judeus não usavam a palavra filho num sentido limitado, como fazemos hoje. Mateus 1:1 declara que Jesus era o “filho de David, o filho de Abraão”. À primeira vista poderia se entender que David era o pai de Jesus e que Abraão era o seu avô. Um Judeu entenderia que Mateus estava declarando que Jesus era descendente de David, que por sua vez era descendente de Abraão.

Para o Judeu, a palavra filho poderia ser utilizada para designar um descendente, numa geração arbitrariamente distante.


Resumos genealógicos

Resumos genealógicos, ou saltos de gerações, aparecem não apenas em Mateus 1:1, mas também em vários pontos do Velho Testamento. Comparando-se Esdras 7:3 com 1 Crônicas 6:7-10, verifica-se que Esdras deliberadamente pulou seis gerações, de Meraiote a Azarias (filho de Joanã).


Filho também poderia ser usado para descrever parentesco, sem filiação. Embora Zorobabel fosse sobrinho de Sealtiel (1 Crônicas 3:17-19), foi chamado o filho de Sealtiel (Esdras 3:2, Neemias 12:1, Ageu 1:12). Jair exemplifica também este princípio. Era apenas um parente não consanguineo distante de Manassés (1 Crônicas 2:21-23 e 7:14-15). No entanto foi chamado “filho de Manassés” (Números 32:41, Deuteronômio 3:14, 1 Reis 4:13).

O ponto a ser lembrado é que a palavra filho pode ser aplicada a vários tipos de parentesco.


José na genealogia de Cristo

Mateus e Lucas mostram que José era o pai legal de Jesus, mas não seu pai genético. Jesus foi milagrosamente concebido em Maria, através do Espírito Santo. Em virtude de ser o esposo de Maria, José era considerado o pai de Jesus e portanto Jesus era seu herdeiro legal.

Através de José, Jesus tinha direito legal sobre o trono de David.

Embora Jesus fosse descendente legal de José , não era seu descendente de sangue.

A genealogia mostrada em Lucas indica isto claramente, declarando que Jesus era “como se cuidava o filho de José” (Lucas 3:23). Claramente, assumia-se que José era o pai biológico de Jesus, embora de fato não o fosse (Mateus 13:55).


Quem era o pai de José?

À primeira vista , Mateus e Lucas parecem discordar quanto ao pai de José. Mateus declara que ele era o filho de Jacó, enquanto que Lucas declara que ele era o filho de Heli.

Felizmente uma fonte de informação inesperada ajudou os estudiosos a esclarecer este mistério.

O Talmude de Jerusalém indica que Maria era a filha de Heli (Haggigah, Livro 77, 4). José era genro de Heli, portanto Lucas poderia chamar José de “filho de Heli”, pois isto estava de acordo com o uso costumeiro da palavra “filho” nessa época, conforme precedentes bíblicos citados anteriormente.


A maldição de Jeoaquim e Jeconias

Jeoaquim foi um rei de Judá que ofendeu a Deus queimando um rolo que o profeta Jeremias havia escrito. Deus o castigou, indicando que “não teria quem se assentasse no trono de David” (Jeremias 36:30). O filho de Jeoaquim , Joaquim, assumi o reinado depois da morte de seu pai (2 Reis 24:6), mas permaneceu em Jerusalém apenas três meses, quando então a cidade foi conquistada por Nabucodonosor, que o levou cativo para a Babilônia, de onde jamais retornou (2 Reis 24:8-15, 25:27:30). O sentido hebraico da frase “não terá quem se assente no trono” é de uma permanência mais duradoura.

Joaquim também chamado Conias (Jeremias 37:1), ou Jeconias (Jeremias 22:24, 24:1 e 27:20) foi também castigado por sua desobediência a Deus (Jeremias 22:21 e 22:30): “nenhum de seus filhos prosperará, para se assentar no trono de David, e ainda reinar em Judá”.


O problema

José, o pai de Jesus era descendente de Jeoaquim e Jeconias. Portanto a descendência física de José não poderia aspirar ao trono de David em virtude do castigo imposto a ambos. Jesus era herdeiro do trono de David, conforme declarado em Lucas 1:32, Atos 2:30 e Hebreus 12:2. Além disso Deus havia prometido a David que um de seus descendentes físicos haveria de reinar em seu trono para sempre (2 Samuel 7:12-13).
Se Jesus tivesse nascido de José a profecia seria contraditória. Era portanto impossível satisfazer à promessa e à profecia de forma natural. Este problema exigiria portanto uma solução de natureza divina.


A solução

Deus criou a solução através do milagre do nascimento virginal. Embora José fosse um descendente de Joaquim e Jeoaquim (através de Salomão), Maria não era. Ela era descendente de Natã (Lucas 3:31) um dos outros filhos de David. A promessa feita a David foi cumprida pois Maria era a mãe biológica de Jesus.
O nascimento virginal também resolveu o problema do castigo imposto a Jeoaquim e Joaquim, dando a Jesus o direito legal ao trono, através de José.



Extraído de: