segunda-feira, 20 de maio de 2013

O sofrimento do mundo e o pessimismo da Igreja

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A natureza criada aguarda, com grande expectativa, que os filhos de Deus sejam revelados.
Pois ela foi submetida à futilidade, não pela sua própria escolha, mas por causa da vontade daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria natureza criada será libertada da escravidão da decadência em que se encontra para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus.
Romanos 8:19-21


Sou bastante ignorante em relação à escatologia e posso me considerar no momento um amilenista (por achar que não há acontecimentos programados que devo esperar antes do fim), mas tenho que dizer que o pós-milenismo me chama a atenção.. A ideia de que a sociedade pode experimentar uma transformação qualitativa através da ação do próprio Deus nos corações das pessoas e através do ministério da Igreja é pra mim fantástico, acho "o melhor dos mundos", só não sei com certeza ainda se isso vai realmente acontecer..

De qualquer forma, mesmo que nunca haja esse avivamento, não acho que a mentalidade dos cristãos deveria ser outra senão a de tentar mostrar à sociedade como um todo que o plano de Deus para o mundo é muito melhor do que qualquer outra ideologia que adotem.. Aparentemente a maioria dos cristãos vai dizer que concorda com essa ideia, mas na verdade não é bem assim..

Quando eu vejo tantos cristãos confundirem "divisão de Igreja e Estado" com "o impedimento da Igreja (os cristãos) se envolver com política", fica claro pra mim que a mentalidade da maioria é de que a Igreja deve se preocupar em resgatar os eleitos para a vida eterna, mas que sua ação na esfera social deve ser somente como 'auxiliar' e não com o intuito de expressar quais os padrões ideais para a sociedade e realmente mudar o mundo.

Quando esses cristãos reclamam que a sociedade vai de mal a pior, deviam entender que, ao se omitirem segundo as falsas pressuposições acima, são muito responsáveis por essa situação.. Esses cristãos acertam ao dizer que não deve haver imposição, mas erram FEIO ao achar que o 'Estado' é independente de Deus e que requerer D-E-M-O-C-R-A-T-I-C-A-M-E-N-T-E que a vontade de Deus seja feita é algum tipo de imposição. 

Fica claro que 1) não entenderam bem o conceito de democracia ou que 2) o pessimismo de sua escatologia fala mais alto na hora de tomar decisões.. Não entenderam que na democracia as coisas são na teoria definidas pelo que uma maioria escolhe, logo, não há imposição quando se opina de "forma x" ou "forma y", são opiniões.. Não entenderam que ao abrirem mão de opinar democraticamente, estão simplesmente dando 'boas vindas' a tudo o que outras ideologias apresentarem à sociedade em termos de leis e regras.
Ou seja, talvez o mundo seja como é justamente pela omissão dos cristãos nessa área e por ser guiado por outras ideologias que nunca vão melhorá-lo.. Não que seja o único fator, mas não consigo desprezar que é algo muito importante.. Alguns (não a maioria) chegam ao ponto de dizer que não devem se preocupar em mudar na sociedade aquilo que não os afeta diretamente, mas com isso somente demonstram egoísmo e total desprezo ou falta de empatia no que diz respeito à ira de Deus sobre os pecadores.

Indo um pouco mais além, esse pessimismo sobre o futuro do mundo é parte de um 'pacote' muito danoso. Olhando pra 'massa evangélica' do nosso país podemos com facilidade montar essa 'equação':
Desigualdade social + corrupção + escatologia pessimista + teologia da prosperidade + infalibilidade pastoral / bispal / apostólica + 'tradições' baseadas em experiências pessoais e extra-bíblicas = 'mundo evangélico' brasileiro.

A vida em um país como o nosso, cheio de injustiças escancaradas pra qualquer um ver e falta de oportunidades a tanta gente, somada a uma total desesperança sobre o futuro nesse mundo se torna o ambiente ideal pra que a "teologia" da prosperidade floresça e atraia pessoas e mais pessoas.. Esse ensino infernal explora a ganância de muitos e o fio de esperança restante de outros em busca de "vitórias" para as lutas em suas vidas sofridas (o que segundo eles é recebido através de barganhas com Deus)
Aqueles que disseminam essa 'teologia" do inferno usam a religiosidade e ignorância bíblica de tantos evangélicos para lhes prometer o que Deus nunca prometeu, e não satisfeitos em iludi-los ainda os extorquem para benefício próprio.. =(

Enfim, esse artigo não é especificamente sobre escatologia, heresias ou muito menos sobre reconstrucionismo ou teonomia, mas simplesmente sobre a incoerência que eu vejo em se abrir mão do direito de opinar e reivindicar melhorias na sociedade segundo o padrão bíblico devido a um pessimismo sobre o futuro ou o entendimento errado sobre seus próprios direitos em uma democracia; e também sobre alguns danos que isso traz.

Espero que não ofenda ninguém com isso, e que não seja tomado como menosprezo alguma outra visão do assunto.. Posso estar errado e estou disposto a ser corrigido.. =D