domingo, 14 de julho de 2013

Genézio

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Extraído de: Recantodasletras.com.br 
com autorização do autor

Genézio: o subversivo, o subjetivo, o substitutivo.
Genézio: o que odeia Leis, anulando-as.
Genézio, o que anula as Leis do Criador, odiando-as.
Genézio, o das dispensações de palha,
as quais cospem e são cuspidas;
que dispensam e são dispensadas.
Genézio, o que anula a espada vingadora,
que cospe na justiça avassaladora,
que odeia o amor, o DEUS do terror.
Genézio, aquele pisoteado inútil,
o qual odeia a mão soberana, o braço
eleitor e reprovador.

Genézio é como Hermes, o humano e o deus.
Genézio não é rápido tal qual,
mas é do mesmo modo humanista e carnal.

Genézio, o que não decreta,
mas obedece, é fraco.
Ele implora, roga,
mas de nada adianta,
sempre há alguém mais forte.
Até mesmo Hermes é mais rápido que Genézio,
e o segundo chora, lamuriando-se todo.
Genézio desembainha sua espada
apenas para descascar trigo; o joio ele não tem coragem.
Sua lâmina é sem fio, sem aparo.
Seu terror é manso,
sua mansidão efeminada,
parece um filhotinho assustado.

Genézio viu Hermes sendo mais rápido,
correndo, falando dele,
então começou a se perguntar: Aonde?
Genézio não é onipresente.

Viu também Hermes tendo mais discurso,
banalizando a tudo e todos,
então começou a se indagar: como?
Genézio não é onisciente.

Hermes conseguiu descascar uma banana,
mas Genézio nem isso conseguiu.
Ele não é onipotente,
ele é tal como a mente mole.

As Leis? Genézio as subverte.
A Graça? Genézio a subjetiva.
A Justiça? Genézio a substitui.


Genézio nunca se ira, ele é débil.
Cuspiram em sua boca,
e ele engoliu o cuspe, chorando.
Arrancaram suas vestes,
e ele se assustou, aquilo fora inesperado.
Ele implorou para que não o chicoteassem,
pois era contra sua vontade,
mas de nada adiantou: Genézio, então, chorou.

Genézio tenta gritar, mas seu grito é inútil.
Genézio tenta falar, mas sua língua é muda, cortada.
Genézio tenta salvar, mas sua salvação é frustrada.
Genézio tenta amar, mas seu amor é fracassado.
Genézio tenta justificar, mas sua justificação é frágil.
Genézio tenta condenar, mas sua condenação é sentimental.
Genézio tenta até se irar, mas sua ira é pirralha.
Genézio tenta, tenta, mas não consegue,
ele é digno de pena.
Hermes sente dó, mesmo falando dele.
Hermes explana, corre, discorre,
mas o conhece bem, sabendo que é infecundo.

Hermes levou Genézio ao tártaro,
para verem o chão de fogo falso;
Genézio vomitou e começou a chorar.
Desesperado, correu afora
sem nem mesmo se despedir.
Genézio é anti-ético, mal educado.

Genézio existe, e não É.
Genézio tem pressuposto, e não é o próprio.
Genézio tem premissa, não sendo ela.
Genézio é causa criada, e não absoluta.
Genézio não escolhe amar,
mas apaixona-se involuntariamente.
Genézio não tem amor, é somente paixão.
É influenciável, cauda fácil de chutar.

Hermes, que conheceu Fernandes,
que conheceu Caio, que conheceu Fábio,
que conheceu Ev, que conheceu Angélica
juntou todos em uma sala.
Começaram a falar, escrever, dissertar,
e, sucintamente, entraram em acordo:
que odeiam as Leis (mas amam Genézio, claro).
Depois de tudo, organizaram uma festa,
dando-a para Genézio.

Ele, emocionado e sorridente,
chorou; lambuzou-se todo de bolo,
de fetos, de marmitas, do mesmo sexo,
do mesmo gênero, da mesma alçada.
Deliciou-se em animais, em anais,
adulterações e adultérios.
Genézio pôs uma toga branca,
limpa, sem sangue algum,
e voltou para casa, agradecido aos quatro.

Hermes, Fernandes, Caio, Fábio, Ev e Angélica
ainda por cima fizeram uma pegadinha:
colaram nas costas de Genézio uma folha,
a qual continha escrito "escravo, servo adotado".

Genézio, chegando em casa depois da hora,
tomou bronca do pai, o qual
não é dono de nada, nem de si.
Genézio é servo, escravo;
é escolhido, e não escolhe
- tem de implorar aos Hermes! -
Genézio é fraco, filhote, desdentado.
Genézio tem boca, mas não fala;
tem olhos, mas não vê;
tem ouvidos mas não ouve;
tem nariz, mas não cheira;
tem mãos, mas não apalpa;
tem língua, mas não declara;
não tem cetro, não tem trono, não tem coroa,
não tem majestade, não tem reino,
não tem criação, não tem vida, não tem nada.

Genézio não é feito de ouro nem prata,
mas sim de mente.
Hermes, o lobo, o ama.
Caio, o que libera, o adora.
Angélica, a que idolatra, ajoelha-se.
Eles amam a si mesmo.

Pois, Genézio é falso pescador,
deus de muito chorume.
Genézio é fraco, inútil, ridículo e ridicularizado,
cuspido e banalizado, afeminado.
Genézio é criado,
Genézio não existe.

Vamos, grupo de idólatras!
Ergam uma estátua de Genézio;
façam uma estatueta de esterco e estrume.
É a única coisa para qual ele serve:
adubo e casa às moscas.

Aos Hermes, Fernandes, Caios, Fábios,
Ev's, Angélicos e Angélicas:
seu deus é patético.



Cesare Turazzi, em tudo capacitado pelo Altíssimo.
[11/07/13]
Extraído de:
http://www.recantodasletras.com.br/poesias/4383162