quarta-feira, 9 de abril de 2014

Sola Scriptura (por Frank Brito) - parte 03 de 05

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Extraído de: Mensagem Reformada
Texto Revisado, Editado e Modificado com permissão do Autor por: Átila Calumby


Eu já postei aqui:

1) A distinção entre validação/determinação e reconhecimento.

2) Que a Palavra de Deus nunca pode ser validada/garantida por homem algum, mas ela autentica a si mesma.
E a última coisa que eu mencionei:

3) Que a necessidade de reconhecimento da verdade da Escritura e a necessidade de reconhecimento de conclusões específicas com base nas Escrituras existiu no Novo Testamento sem a existência de um magistério validador e com todo o "magistério" em estado de apostasia.


A validação da Escritura não vinha do magistério judaico. Se viesse, eles não seriam passíveis de tantas apostasias, incluindo o assassinato do Senhor. Mesmo sendo o magistério judaico que havia transmitido a Escritura (Mateus 23).
A validação da Escritura vinha da autoridade inerente da Palavra de Deus que fora transmitida pelos profetas do Senhor

O Apóstolo Paulo escreveu:
"Assim, pois, não sois mais estrangeiros, nem forasteiros, antes sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, sendo o próprio Cristo Jesus a principal pedra da esquina; no qual todo o edifício bem ajustado cresce para templo santo no Senhor, no qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus no Espírito".
(Efésios 2.19-22)
E depois:
"E ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres, tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo; para que não mais sejamos meninos, inconstantes, levados ao redor por todo vento de doutrina, pela fraudulência dos homens, pela astúcia tendente à maquinação do erro"
(Efésios 4.11-14)
Aqui Paulo fala de diversos dons que Deus concedeu a Igreja. Ele explica que o objetivo desses dons é que "todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus...". É importante comparar isso com o que ele acabara de dizer: "Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé..." (Efésios 4.4-5) Todavia, como vemos a seguir, a plena unidade não era tido por ele como uma realidade já consumada, mas como uma esperança escatológica em processo de cumprimento.
Isso, por si só, deve nos fazer entender que divergências que existem na Igreja do Senhor não deve servir como base para que percamos a confiança em sua unidade fundamental. A Igreja é una. Mas como Paulo demonstra, a plena realização desta unidade de fé é uma esperança escatológica e não um fato já consumado.
O fato de que não era uma realidade já plenamente consumada é evidente quando lemos as próprias cartas de Paulo. Vemos claramente que em igrejas que ele próprio tinha fundado havia uma grande diversidade de pessoas, desde pessoas que ele elogia pelo alto grau de santidade e conhecimento teológico até pessoas que ele declara como estando separadas de Cristo. Haviam os de fraco entendimento teológico e os de entendimento desenvolvido.

Para que a esperança se torne realidade, diz o texto, que Deus "deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres". Aqui precisamos notar algo muito importante. No capítulo 2, quando ele havia falado do edifício da Igreja, ele havia mencionado somente os apóstolos e profetas e omitido evangelistas, pastores e mestres.
A causa dessa omissão pode ser compreendida, se entendemos a função de cada um. Aos coríntios, ele escreveu:
"Pois, que é Apolo, e que é Paulo, senão ministros pelos quais crestes, e isso conforme o que o Senhor concedeu a cada um? Eu plantei; Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. De modo que, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. Ora, uma só coisa é o que planta e o que rega; e cada um receberá o seu galardão segundo o seu trabalho. Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus. Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei eu como sábio construtor, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele. Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo". 
(I Coríntios 3.5-11)
Aqui é importante notar que ele não coloca Apolo como plantando ou lançando o fundamento. Ele coloca Apolo como o que rega aquilo que já foi plantado. Apolo edifica sobre o fundamento colocado por ele. A distinção aqui deve-se a distinção de funções. A distinção é que ele, Paulo, era um apóstolo e Apolo não era. Quem lança o fundamento é o Apóstolo. Esse é o motivo pelo qual no capítulo 2, quando ele havia falado do edifício da Igreja, ele havia mencionado somente os apóstolos e profetas e omitido evangelistas, pastores e mestres.

Para compreender melhor essa relação, precisamos refletir sobre o significado do ofício apostólico. Aos Gálatas, ele escreveu:
"Paulo, apóstolo (não da parte dos homens, nem por intermédio de homem algum, mas sim por Jesus Cristo, e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos..." 
(Gálatas 1.1)
Paulo, como de costume, começa declarando o seu apostolado. Em seguida ele faz três declarações importantes sobre sua função apostólica:

1) Não era da parte de homens.

2) Não era por intermédio de homem algum.

3) Era por Jesus Cristo e Deus Pai.

Ele continua a enfatizar isso no decorrer de todo o primeiro capítulo:

"Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens; porque não o recebi de homem algum, nem me foi ensinado; mas o recebi por revelação de Jesus Cristo". 
(Gálatas 1.11-12)
Aqui ele dá três características do Evangelho por ele anunciado:

1) Não era segundo homens.

2) Não veio ao Evangelho por meio da evangelização de homem algum.

3) Foi-lhe ensinado diretamente por Jesus Cristo.

O que foi dito ai por Paulo poderia ser dito por qualquer apóstolo. Mas não pode ser dito por qualquer cristão. É verdade que aqueles que seguem o Evangelho, não seguem um Evangelho que é segundo homens. Seguem o Evangelho de Jesus Cristo. Mas ao mesmo tempo, não podem dizer que não vieram a este Evangelho sem intermédio de homens. Os cristãos comuns se tornaram cristãos pela pregação de outros ou pela leitura das Escrituras escritas por outros homens. Mas esse não foi o caso de Paulo e dos outros apóstolos. Eles foram instruídos diretamente pelo Senhor. E foram instruídos diretamente pelo Senhor com objetivo de lançar o fundamento da Igreja. 

Apolo não lança o fundamento da Igreja. Apolo edifica sobre o fundamento já lançado. Pastores, bispos, presbíteros, mestres, etc. não lançam o fundamento. Eles edificam sobre o fundamento já lançado. O fundamento é apostólico.

Mas alguns edificam melhor do que outros: "Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei eu como sábio construtor, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele". (I Coríntios 3.10)


É sobre essa função apostólica que Paulo fala aos Romanos:
"porque não ousarei falar de coisa alguma senão daquilo que Cristo por meu intermédio tem feito, para obediência da parte dos gentios, por palavra e por obras, pelo poder de sinais e prodígios, no poder do Espírito Santo; de modo que desde Jerusalém e arredores, até a Ilíria, tenho divulgado o evangelho de Cristo; deste modo esforçando-me por anunciar o evangelho, não onde Cristo houvera sido nomeado, para não edificar sobre fundamento alheio; antes, como está escrito: Aqueles a quem não foi anunciado, o verão; e os que não ouviram, entenderão". 
(Romanos 15.18-21)

Aqui Paulo fala de seu esforço pra conduzir os gentios a obediência a Deus. Ele cita Isaías pra demonstrar o que estava acontecendo por meio de seu ministério:

"Eis que o meu servo procederá com prudência; será exaltado, e elevado, e mui sublime. Como pasmaram muitos à vista dele, pois o seu parecer estava tão desfigurado, mais do que o de outro qualquer, e a sua figura mais do que a dos outros filhos dos homens. Assim borrifará muitas nações, e os reis fecharão as suas bocas por causa dele; porque aquilo que não lhes foi anunciado verão, e aquilo que eles não ouviram entenderão". 
(Isaías 52.13-15)

Ele menciona também que ele se esforçou para não anunciar o Evangelho "onde Cristo houvera sido nomeado", isto é, em Israel. Por qual motivo? Para "não edificar sobre fundamento alheio".
Se voltarmos a Gálatas, compreenderemos melhor o significado disto:
"(Porque aquele que operou eficazmente em Pedro para o apostolado da circuncisão, esse operou também em mim com eficácia para com os gentios), E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas, a graça que me havia sido dada, deram-nos as destras, em comunhão comigo e com Barnabé, para que nós fôssemos aos gentios, e eles à circuncisão". 
(Gálatas 2.8-9)

Aqui vemos qual era a ênfase do ministério de cada um. Paulo certamente pregava aos judeus e não somente aos gentios. Da mesma forma que os demais apóstolos certamente pregavam para os gentios. Mas a ênfase do apostolado de Paulo, o seu ministério eram os gentios. Enquanto isso, a ênfase do apostolado de Pedro, Tiago e João eram os judeus.

É por isso que aos Romanos ele diz que se esforçou para não anunciar o Evangelho "onde Cristo houvera sido nomeado", isto é, em Israel, para "não edificar sobre fundamento alheio". O fundamento alheio era o fundamento daqueles que eram os apóstolos da circuncisão, os apóstolos dos judeus.