segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Corrigindo uma "parábola" arminiana

Bookmark and Share Bookmark and Share


Imagine que você está com uma dívida enorme que você mesmo(a) causou e não pode mais pagar, então surge alguém e se propõe a te tirar dessa situação pagando toda a sua dívida. Mais que isso, te tornando digno de muitos benefícios e justo perante todos. E a sua parte nisso é apenas dar a sua resposta aceitando a oferta ou a recusando, sem precisar dar ou fazer qualquer coisa além disso em troca.

Impossível?? 
Fora de cogitação??

É mesmo algo difícil até de se imaginar um ato como esse considerando a nossa realidade, mas o que podemos dizer a respeito da situação como um todo e dos envolvidos??

Bom, nesse pequeno relato que às vezes é usado (com outras palavras) para expressar a oferta da salvação, podemos rotular 3 personagens (2 revelados e 1 implícito): o devedor ("você" - aquele que tem a dívida), o fiador (aquele que assume a sua dívida) e o credor (aquele para quem a dívida deve ser paga). Vamos tratá-los assim daqui pra frente..


A partir dessa breve descrição, vamos analisar algumas coisas..

A cobrança do credor é justa.

Havendo uma dívida real, não há qualquer erro da parte do credor em exigir do devedor que quite a dívida. Esse credor não tem qualquer obrigação de simplesmente esquecer a dívida, podendo fazer isso apenas se assim desejar.

A atitude do fiador é misericordiosa.

Ao assumir a dívida do devedor, o fiador representa então esse devedor. No nosso exemplo o fiador toma plenamente o lugar do devedor por vontade própria, e o absolve da dívida. Nesse caso ele não se coloca apenas como uma garantia de que o devedor quitará sua dívida, ele mesmo se propõe a pagar essa dívida, e por um ato de misericórdia já que não está obtendo qualquer coisa em troca.


Considerando esses 2 pontos, verificamos que ao quitar tal dívida o fiador está sendo misericordioso em relação ao devedor, mas que não haveria injustiça caso esse devedor fosse punido devido à dívida que contraiu e ainda não pagou. O fiador também não poderia ser tido como injusto caso não assumisse essa dívida voluntariamente, afinal, a dívida não era dele.. 
Da mesma forma, o credor não poderia ser taxado de "mau" ou "injusto" por exigir o pagamento do que lhe é devido.


Entendendo e concordando com isso, vamos agora pensar sobre o que a 'parábola' não diz..

Vejamos.. Havendo um fiador que toma o lugar do devedor, ele poderia assumir o lugar de quantos devedores perante o credor?? E esse credor, tem quantos devedores??
Podendo o fiador pagar a dívida de todos os outros devedores daquele credor, ao escolher pagar de alguns e não de todos, haveria alguma injustiça da parte dele??

Bom, agora vamos identificar esses personagens e tentar aplicar os conceitos tratados.

Nessa "parábola" o credor representa DEUS, Sustentador Soberano do Universo. O devedor representa qualquer um de nós, em dívida com Deus devido aos nossos pecados. E o fiador representa JESUS CRISTO, que assume o lugar do pecador perante o Pai, pagando completamente sua dívida através de Seu próprio sacrifício.

Biblicamente falando, essa representação é correta conforme eu descrevi logo acima, porém há alguns problemas nessa 'parábola' que alguém criou pra tentar justificar a oferta da salvação. Explico:

Nessa ilustração o fiador apenas oferece ao devedor a possibilidade do pagamento da dívida, cabendo a esse devedor aceitar ou não essa oferta.
Nesse caso fica evidente que, apesar do pagamento somente poder ser efetuado por esse fiador e que somente através dele o devedor pode ser salvo (por si mesmo ele não pode nem contribuir com isso), A DECISÃO desse devedor é que vai determinar seu destino: continuar devedor (condenado ao inferno) ou ficar livre da dívida definitivamente (ser salvo).
Isso se torna mais claro quando lembramos que todos seres humanos são devedores perante DEUS e que supostamente essa oferta foi/é/será feita a todos eles. E fica mais complicado se sustentar a "parábola" ao lembrarmos que esse pagamento JÁ FOI REALIZADO.

O que temos então como conclusão dessa "parábola" é um pagamento que foi feito em nome de todos (dentre os que aceitaram a oferta ou a rejeitaram), mas que somente faz efeito sobre os que concordaram em ter a dívida paga. Ou seja, o pagamento que supostamente cobria a dívida de todos é desperdiçado, já que esses que rejeitaram a oferta continuam devedores e ainda pagarão essa dívida.

Desta forma, se a oferta é feita a todos mas nem todos são salvos porque nem todos a aceitam, é óbvio que é a decisão pessoal que define quem é salvo e quem não é. Por mais que seja a ação do fiador que garante essa salvação aos que a aceitam, ela não é eficaz em salvar a todos a quem é oferecida, já que cabe ao devedor escolher se quer ter essa dívida paga ou não e portanto a salvação da pessoa DEPENDE dela mesma em algum grau.

Além disso, se entende-se que o pagamento dessa dívida perante DEUS foi o sacrifício de Cristo na cruz, logo, como Ele poderia ter pago por todos se não são todos que aceitam e por isso supostamente não tem a dívida paga??
Como Jesus pode ter pago o preço pelos pecados de alguém que não aceitou a oferta DEle e depois essa pessoa ainda terá que pagar pelos mesmos pecados?? Qual o sentido da cobrança ser feita 2 vezes sobre a mesma dívida??

O problemão então é que: A quitação da dívida é apenas oferecida apesar do pagamento ser realizado, e tal pagamento não assegura o fim da dívida caso a oferta seja rejeitada.

É como se a decisão de recusar o pagamento anulasse o próprio efeito do pagamento, e portanto temos um desperdício do sangue de Cristo, o que é absurdo..

Mas então qual é a verdade sobre a salvação??

A verdade é que todos aqueles que DEUS escolheu salvar, tem sua dívida paga pelo sacrifício de JESUS CRISTO.
Não há qualquer possibilidade de que essas pessoais pelas quais ELE tenha pago o preço continuem 'endividadas' perante o Pai.

Isso não implica em dizer que a pessoa não participa da sua própria salvação, porém nega que seja de forma ativa.
Somente são salvos aqueles que creem em JESUS CRISTO como Senhor e Salvador, mas isso não implica em dizer que quem não crer não será salvo MESMO COM A DÍVIDA SANADA, e isso porque esse pagamento não foi feito em nome daqueles que não creem.

Quero dizer, sendo a fé um dom, ela vem de DEUS (Efésios 2:8-9) e não da própria pessoa e portanto a participação dessa pessoa na salvação é passiva.
Isso fica muito claro no versículo 30 do capítulo 8 do livro de Romanos, onde todos os verbos estão na voz passiva e mostram que aquele que é predestinado é também chamado, justificado e glorificado.
Aqui há uma análise mais densa sobre isso:
Tendo em vista tais coisas, o que a bíblia ensina é que, apesar do chamado ao arrependimento e o anúncio do evangelho serem dados a todos indistintamente, não é o próprio "ouvinte" que torna o sacrifício de Cristo eficaz ou não em Seu propósito.

Cristo morreu para salvar todos aqueles que o Pai elegeu antes da fundação do mundo (Efésios 1:4) e todos estes são regenerados por Ele em algum momento de suas vidas para que, ao receberem esse chamado respondam positivamente. Ao mesmo tempo que não é uma decisão deixada à vontade natural da pessoa, tal decisão já é fruto da transformação de sua natureza, e portanto é uma decisão voluntária.
Aqui escrevi mais detalhadamente sobre isso:


Mas não é injusto JESUS morrer para salvar apenas alguns??


Vamos voltar ao que eu disse anteriormente:
(...) ao quitar tal dívida o fiador está sendo misericordioso em relação ao devedor, mas que não haveria injustiça caso esse devedor fosse punido devido à dívida que contraiu e não pagou.
Se já ficou claro que é um ato de misericórdia absolver um devedor e que não seria injusto que tal devedor fosse punido por tal dívida, como alguém pode acusar o "fiador" por não perdoar a dívida de todos??
Não há qualquer injustiça, só há misericórdia e justiça.
A vida eterna é expressão de misericórdia divina aos Seus eleitos, enquanto a condenação eterna é a aplicação da Santa justiça DEle sobre os que permanecem sob a Sua ira, em dívida.

Conclusão:

A salvação é obra divina da qual participamos passivamente por meio da fé.
Não somos nós quem determinamos nossos destinos e nem está em nós o poder de invalidar ou tornar eficaz o efeito do sacrifício de Cristo. É DEUS quem nos resgata e molda para que sejamos conforme Ele determinou (Romanos 8:29, Efésios 2:10).

Todos nós, sendo devedores, temos o dever de reconhecer essa dívida entregarmos nossas vidas ao nosso Redentor pela obra que ELE  realizou, e pela qual somos salvos. Devemos viver para ELE em gratidão ao que ELE fez por nós, e não em vista de conquistar qualquer coisa..


Sua salvação não depende de você.