sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A Relevância dos Credos e Confissões (por Heber Carlos de Campos) - parte 05 de 05

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XI. A Autoridade dos Credos e Confissões
Modernamente tem havido duas atitudes para com os credos e confissões: uma de divinação e a outra de rejeição dos mesmos. Uma atitude sábia está em evitar esses dois extremos.
Classicamente falando há duas posições com respeito aos credos e confissões, expressas em frases latinas: norma normata, que deve ser preferida a norma normans.

A expressão norma normans ("uma regra que regula") reflete a posição católica romana. Ela expressa a ideia de que a autoridade dos antigos credos é absoluta e infalível. Os credos antigos eram considerados Palavra de Deus.

A expressão norma normata ("uma regra que é regulada") reflete a posição protestante. Observe-se que o credo é uma regra, uma norma. Os credos sempre refletiram a consciência doutrinária e religiosa das gerações da igreja cristã. Eles são de uma importância enorme para a igreja contemporânea, pois expressam aquilo que os nossos antigos creram. E tem que haver uma identidade de fé que nos une a todos, cristãos de todas as épocas. Mas temos que observar também que o credo é não somente uma norma, mas uma norma que é regulada. Como o credo é uma formulação humana, ele tem que estar submisso (regulado) à Escritura, a regra infalível e suprema de fé e prática. A Escritura, sim, é norma normans, isto é, ela é divina e absoluta, e tem a finalidade de regular os credos, que são uma autoridade secundária e derivada. Em última análise, os credos e confissões devem sempre ser testados e regulados pela Palavra de Deus.

Os Padrões de Fé de Westminster, por exemplo, não são norma normans, mas norma normata, não uma regra com norma intrínseca, mas uma regra derivada da fé. Eles são um produto humano, totalmente subordinado à Palavra de Deus. A Escritura possui uma autoridade intrínseca, e não a igreja ou seus credos. Tanto a igreja como os seus padrões de fé devem sr julgados pela norma normans, que é a Escritura.

Vivemos num tempo de indefinição teológica e doutrinária por causa do abandono dos credos e confissões. O retorno aos credos e confissões é absolutamente necessário para que essa indefinição termine. Contudo, a aceitação de proposições confessionais deve levar a uma vida prática, sadia, cheia de amor pela Palavra de Deus e santo temor e reverência pelo seu autor e inspirador.

XII. A Necessidade de Volta dos Credos e Confissões.

Essa volta é absolutamente necessária porque precisamos rejeitar a subjetividade daquilo que tem sido ensinado nas universidades e em alguns seminários evangélicos. O retorno aos credos precisa incluir a rejeição do subjetivismo moderno que tem negligenciado a verdade como é revelada objetivamente Temos que afirmar as verdades de Deus que estão objetivamente reveladas nas Escrituras Sagradas.

Essa volta aos credos deve ser uma resposta à ênfase exclusiva na ortopraxia. Demarest diz que "a única garantia de uma ortopraxia bíblica responsável é uma ortodoxia bíblica autêntica, tal como a fé que temos enraizada nos credos. Não nenhuma integridade de vida à parte de uma integridade de crença."[1]

Essa volta aos credos deve ser uma resposta à ideia do relativismo cultural. O que é verdade espiritual uma vez, sempre o será. A verdade não será condicionada a um tempo ou época. A verdade de Deus é para sempre. Aquilo que considerou verdade numa época e depois caiu, não é expressão da verdade. Por essa razão os credos não são infalíveis. Eles podem ser aperfeiçoados e melhorados.

XIII. A Importância da Subscrição dos Credos e Confissões

Nos dias em que vivemos, por causa do baixo nível ético de crentes e de ministros da Palavra que prometem verbalmente fidelidade aos padrões doutrinários mas logo se afastam deles por uma questão de conveniência teológica, precisamos subscrever um conjunto de doutrinas que expressem a nossa fé. Essa atitude significa nadar contra a correnteza. Por causa do pluralismo vigente em nossos dias, as pessoas têm reservas até mesmo quanto à idéia de subscrever uma formulação teológica.

Contudo, esta época é extremamente apropriada para que mostremos a nossa definição teológica, assinando documentos de fidelidade ao que professamos crer. Segue abaixo uma sugestão do que os oficiais e ministros das igrejas confessionais deveriam assinar:
Nós, abaixo assinados, sinceramente e de boa consciência, declaramos que, por esta subscrição, estamos firmemente persuadidos de que todos os pontos contidos em nossos símbolos de fé reformados, elaborados pelos nossos antepassados espirituais, refletem com fidelidade, por sua interpretação, os ensinos da Palavra de Deus.
Prometemos, assim, ensinar com toda a diligência as doutrinas afirmadas em nossos símbolos de fé, sem que as contradigamos direta ou indiretamente, quer por pregação pública ou pelos nossos escritos.
Declaramos, além disso, que não somente rejeitamos os erros que militam contra essas doutrinas, mas estamos dispostos a refutar e a contradizer os ataques à sã doutrina, para que a conservemos pura, e a igreja seja livre de cair em heresia.
A subscrição de padrões doutrinários deveria ser exigida por seminários e concílios da igreja, os subscritores ficando passíveis de ser submetidos ao juízo das autoridades eclesiásticas caso sigam um padrão diferente daquilo que subscreveram. Contudo, uma pessoa não deve ficar para sempre presa ao que assinou, no caso de não mais concordar com o que subscreveu anteriormente. O subscritor tem o direito de ter as suas dificuldades doutrinárias, e pode querer o reexame das doutrinas afirmadas. Uma saída para essa situação está prevista na fórmula de subscrição sugerida:

Se, porventura, tivermos quaisquer dificuldades ou sentimentos diferentes com respeito ao que subscrevemos, prometemos não ensinar sobre eles nem pública nem particularmente, seja por pregação ou por escritos, até que tenhamos primeiro revelado tais dificuldades aos concílios competentes, e sejam essas dificuldades e sentimentos devidamente examinados por eles, estando nós dispostos a aceitar o juízo desses concílios, ficando sob penalidade, em caso de recusa, de sermos suspensos de nosso ofício.[2]

Creio firmemente que muitos oficiais das igrejas confessionais das igrejas confessionais teriam dificuldade em assinar um documento como o sugerido acima, porque o tempo presente dificulta essa atitude. Infelizmente, a igreja sempre tem se defrontado com a falta de seriedade de alguns de seus ministros ordenados, numa atitude não condizente com a ética cristã. Juram e não cumprem o juramento feito ao tempo da sua ordenação. Como agravante, as dificuldades individuais de ministros e professores de seminários não têm feito com que esses problemas e sentimentos opostos aos padrões confessionais cheguem aos concílios superiores. Eles preferem ignorar os problemas que vêem e fecham os olhos aos padrões doutrinários violados por muitos colegas, em nome do "amor." Em nome desse mesmo "amor de coleguismo," permitem que a verdade de Deus seja sacrificada. É uma pena que as coisas sejam assim.

Todavia, eu conclamo os meus colegas de presbiterato, sejam eles docentes ou regentes, a assumirem uma postura de lealdade àquilo que cremos ser uma exposição fiel das verdades da Escritura Sagrada. Somente assim, haveremos de livrar a igreja que amamos das ameaças teológicas que a rodeiam. Que Deus assim nos ajude!



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Notas

[1] Demarest, "Christendom’s Creeds," 353.

[2] Esta sugestão de fórmula de subscrição é parcialmente retirada daquela seguida pelos ministros da Igreja Cristã Reformada dos Estados Unidos, que está inserida no Psalter Hymnal, 71.