segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

A Eternidade dos Tormentos do Inferno (por Jonathan Edwards) - parte 02 de 03

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Traduzido do original em inglês: The Eternity of Hell's Torments
Jonathan Edwards © Domínio Público
Original disponível em: www.APURITANSMIND.com
Tradução e Produção: www.FirelandMissions.com
Primeira edição: Setembro de 2013.


II. A Morte Eterna Com a Qual Deus Ameaça o Ímpio Não é a Aniquilação, Mas Uma Justa e Permanente Punição ou Tormento.


A verdade desta proposição será demonstrada pelas seguintes características:

Primeiro, a Escritura em toda a parte retrata o castigo dos ímpios como algo que implica dores e sofrimentos extremos. Mas um estado de aniquilação não é um estado de sofrimento. Pessoas aniquiladas não têm nenhum senso ou sentimento de dor ou prazer, e muito menos podem sentir esta punição que carrega em si mesma uma extrema dor ou sofrimento. Eles não sofrem nada mais na eternidade do que já sofreram da eternidade.

Segundo, está de acordo tanto com a Escritura quanto com a razão, supor que os ímpios serão punidos de tal forma que estarão conscientes da punição que estão sofrendo: que eles estarão cientes que naquela circunstância Deus executou e cumpriu o que havia ameaçado; ameaça a qual eles desconsideraram e não acreditaram. Eles saberão que a justiça veio sobre eles, que Deus estará reivindicando aquela autoridade a qual eles desprezaram, e que Deus não é um ser tão desprezível quanto eles pensavam que fosse. Enquanto estiverem sob a punição ameaçada, eles estarão conscientes do porquê estão sendo punidos. É sensato que eles estejam conscientes de sua própria culpa, lembrem de suas antigas oportunidades e obrigações, e vejam a sua própria loucura e a justiça de Deus. Se a punição ameaçada for a aniquilação eterna, eles nunca saberão que isto é infligido.
Eles nunca saberão que Deus é justo em puni-los, ou que eles são merecedores do mesmo. Como pode isto estar de acordo com as Escrituras, em que Deus ameaça, que Ele retribuirá o ímpio diretamente Dt 7:10; com Jó 21:19-20"Deus reserva o castigo para ele, e ele o saberá. Que os seus próprios olhos vejam a sua ruína; que ele mesmo beba da ira do Todo-poderoso!"; e com Ezequiel 22:21-22"Eu [Deus] os ajuntarei e soprarei sobre vocês a minha ira impetuosa, e vocês se derreterão. Assim como a prata se derrete numa fornalha, também vocês se derreterão dentro dela, e vocês saberão que eu, o Senhor, derramei a minha ira sobre vocês"? E como pode isto estar de acordo com aquela expressão tantas vezes anexada as ameaças da ira de Deus contra os ímpios: "E vós sabereis que eu sou o Senhor" ? (cf. Ez 7:14

Terceiro, a Escritura ensina que os ímpios sofrerão diferentes graus de tormento, de
acordo com os diferentes agravos de seus pecados. "Mas Eu lhes digo que qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento. Também, qualquer que disser a seu irmão: ‘Racá’, será levado ao tribunal. E qualquer que disser: ‘Louco! ’, corre o risco de ir para o fogo do inferno" - Mt 5:22. Aqui Cristo nos ensina que o tormento dos ímpios será distinto para cada pessoa, de acordo com o diferente grau de sua culpa. Haverá mais tolerância para Sodoma e Gomorra, para Tiro e Sidom do que para as cidades onde a maioria dos milagres de Cristo foram realizados (cf. Mt 11:21-24).
Novamente, nosso Senhor nos assegura que: "Aquele servo que conhece a vontade de seu senhor e não prepara o que ele deseja, nem o realiza, receberá muitos açoites. Mas aquele que não a conhece e pratica coisas merecedoras de castigo, receberá poucos açoites" Lc 12:47-48.
Essas várias passagens da Escritura infalivelmente provam que haverá diferentes graus de punição no inferno, o que é totalmente inconsistente com a suposição de que a punição consiste na aniquilação, no qual não pode haver graus.

Quarto, a Escritura é muito clara e rica neste assunto: que o castigo eterno dos ímpios consistirá no sofrimento e tormento consciente, e não na aniquilação. O que se diz sobre Judas é digno de ser observado aqui: "Melhor lhe seria não haver nascido" - Mt 26:24. Isso parece claramente nos ensinar, que o castigo dos ímpios é tal que a sua existência, como um todo, é pior do que a não existência. Mas se a sua punição consiste meramente na aniquilação, isso não é verdade! É dito que os ímpios, em seu castigo, lamentarão, chorarão e rangerão seus dentes o que não implica apenas na existência real, mas em vida, conhecimento e atividade e que eles são, de uma maneira muito consciente e intensa, afetados por sua punição - Is 33:14. Pecadores no estado de sua punição são retratados como seres habitando com chamas eternas. Mas se eles são apenas transformados em nada, onde é a base para esta retratação? É absurdo dizer que os pecadores habitarão com a aniquilação, pois não há habitação neste caso. Também é absurdo chamar a aniquilação de fornalha ardente, o que implica em um estado de existência, sensibilidade e dor extrema: enquanto na aniquilação não há nem um nem outro.

É dito que eles serão lançados no lago de fogo e enxofre. Como pode esta expressão, com alguma propriedade, ser entendida como um estado de aniquilação? Sim, eles são expressamente avisados que não terão descanso nem de dia nem de noite, mas serão atormentados com fogo e enxofre, para todo o sempre Ap 20:10. Mas, aniquilação é um estado de descanso, um estado em que nem mesmo o menor tormento pode, possivelmente, ser experimentado. O homem rico no inferno, ergueu os olhos de onde estava sendo atormentado, e viu ao longe Abraão, e Lázaro em seu seio, e entrou em uma conversa particular com Abraão: tudo o que prova que ele não foi aniquilado (cf. Lc 16:19-31).

Os espíritos dos homens ímpios antes da ressurreição não estão em um estado de aniquilação, mas em um estado de tormento. Eles são espíritos em prisão, como diz o apóstolo sobre os que se afogaram no dilúvio - 1Pe 3:19. E isso aparece bem nitidamente no exemplo do homem rico, mencionado anteriormente, se considerarmos ele como o representante do ímpio em seu estado intermediário entre a morte e a ressurreição. Mas se os ímpios, mesmo ali, estão em um estado de tormento, muito mais estarão, quando sofrerem aquilo que é a punição adequada pelos seus pecados.

A aniquilação não é uma desgraça tão grande assim, de forma que alguns a preferiram a um estado de sofrimento até mesmo nesta vida. Este foi o caso de Jó, um homem justo. Mas se um homem justo pode, neste mundo, sofrer o que é pior do que a aniquilação, sem dúvida, a punição adequada dos ímpios, na qual Deus pretende manifestar Seu repúdio singular pela maldade deles, será uma desgraça muitíssimo maior e, portanto, não pode ser a aniquilação. Esta só pode ser uma declaração muito vil e desprezível da ira de Deus para com aqueles que se rebelaram contra Sua coroa e dignidade quebraram as suas leis, e desprezaram tanto a Sua vingança quanto Sua graça o que não é uma desgraça tão grande quanto aquela que alguns de seus verdadeiros filhos têm sofrido nesta vida.

O castigo eterno dos ímpios é considerado a segunda morte - Ap 20:14; 21:8. É, sem dúvida, chamado a segunda morte, em alusão à morte do corpo, e como a morte do corpo é normalmente assistida com grande dor e angústia, então o mesmo, ou algo imensamente maior, está implícito em chamar o castigo eterno do ímpio a segunda morte. Não haveria propriedade alguma em chamá-lo assim, se o castigo consistisse meramente na aniquilação. E estes ímpios que morrerem pela segunda vez sofrerão, pois não poderia ser chamado a segunda morte com relação a nenhum outro ser, senão aos homens. Não se pode chamar desta maneira quando se trata dos demônios, visto que eles não morrem de morte temporal, a qual é a primeira morte.
Em Apocalipse 2:11 diz: "Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. O vencedor de modo algum sofrerá a segunda morte"; sugerindo que todos os que não vencem os seus desejos, mas vivem no pecado, sofrerão a segunda morte.

Repetindo, os ímpios sofrerão o mesmo tipo de morte que os demônios, assim como diz no verso 41 do contexto: "Malditos, apartem-se de mim para o fogo eterno, preparado para o diabo e os seus anjos". Ora, o castigo do diabo não é a aniquilação mas o tormento. Portanto, ele treme de medo. Não por medo de ser aniquilado ele estaria contente com isso. O que ele teme é o tormento, como aparece em Lucas 8:28, onde ele grita e implora a Cristo que não o atormente antes do tempo. E diz: "O diabo, que as enganava, foi lançado no lago e fogo que arde com enxofre, onde já haviam sido lançados a besta e o falso profeta. Eles serão atormentados dia e noite, para todo o sempre" - Ap 20:10.
É estranho como os homens vão diretamente contra revelações tão claras e plenas das Escrituras, a ponto de supor, mesmo diante de todas estas coisas, que a punição eterna ameaçada contra os ímpios não significa nada mais do que a aniquilação.

III. Este Tormento Não Continuará Somente Por Um Grande Período de Tempo, Mas Será Absolutamente Sem Fim.

Uma vez que a punição do ímpio consiste em um justo tormento, logo, este tormento não continuará somente por um grande período de tempo, mas será absolutamente sem fim.

Há dois grupos distintos que têm sustentado que os tormentos do inferno não são absolutamente eternos. Alguns supõem que nas ameaças do castigo eterno, os termos utilizados não necessariamente implicam uma eternidade propriamente dita, mas apenas um grande período de tempo. Outros supõem que, se de fato implica em uma eternidade propriamente dita, ainda assim não podemos necessariamente concluir daí, que Deus vai cumprir suas ameaças. Por isso irei:

Primeiro, mostrar que as ameaças do castigo eterno de fato, clara e plenamente, implicam em uma absoluta eternidade propriamente dita, e não apenas um longo período de tempo. Isso é demonstrado:
  1. Porque, quando a Escritura fala dos ímpios sendo condenados a uma punição, no momento em que todas as coisas temporais chegarem a um fim, ela fala deste castigo como sendo eterno, assim como no texto e em outras passagens. É verdade que o termo "para sempre" nem sempre é utilizado na Escritura significando eternidade. Às vezes, significa: "enquanto o homem vive" - Rm 7:1. Nesse sentido, é dito que o servo hebreu que escolhesse permanecer com seu mestre, deveria ter sua orelha furada e servir o seu senhor para sempre (cf. Ex 21:5-6). Às vezes significa: "durante a continuação do estado e da igreja dos judeus". Nesse sentido, várias leis, que eram particulares àquela igreja e que só deveriam permanecer em vigor enquanto a igreja durasse, são chamados estatutos perpétuos ver Ex 27:21; 28:43etc. Às vezes, significa: "enquanto o mundo existir". Assim como em Eclesiastes 1:4"Gerações vêm e gerações vão, mas a terra permanece para sempre".
    E este último, é a maior duração temporal para a qual o termo já fora utilizado com 
    este significado. Pois a duração do mundo, é a mais longa das coisas temporais, assim como o seu princípio foi o primeiro. Portanto, quando a Escritura fala de coisas que existiam antes da fundação do mundo, isso significa que elas existiam antes do início do tempo. Então, essas coisas que continuam a existir depois do fim do mundo, são coisas eternas. Quando o céu e a terra forem abalados e removidos, aquilo que permanecer será o que não pode ser abalado e que permanecerá para sempre - Hb 12:26-27.

    Mas o castigo dos ímpios, não só permanecerá após o fim do mundo, mas é chamado de eterno, como no texto: "E estes irão para o castigo eterno". Assim como em 2 Tessalonicenses 1:9-10"Eles sofrerão a pena de destruição eterna, a separação da presença do Senhor e da majestade do seu poder. Isso acontecerá no dia em que ele vier para ser glorificado em seus santos", etc. Agora, o que pode se compreender por algo ser eterno, depois que todas as coisas temporais chegarem a um fim, é que este é absolutamente sem fim!
  2. Tais expressões que são utilizadas para estabelecer o período de duração do castigo dos ímpios, jamais são usados n as Escrituras do Novo Testamento para significar qualquer outra coisa a não ser a eternidade propriamente dita. Diz-se, não somente que o castigo será para sempre, mas para todo o sempre. "A fumaça do tormento de tais pessoas sobe para todo o sempre" - Ap 14:11"Eles serão atormentados dia e noite, para todo o sempre" - Ap 20:10. Sem dúvida, o Novo Testamento tem certa expressão que significa a eternidade propriamente dita, a qual tem sido frequentemente ocasião para discussão. Mas não há maior expressão do que essa: se essa expressão não significa uma eternidade absoluta, não há nenhuma outra que signifique.
  3. A Escritura usa o mesmo modo de falar para expor a eternidade de tormento e a eternidade de felicidade, sim, a eternidade de Deus. "E estes irão para o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna" - Mt 25:46. As palavras eterno e eterna, no original, são as mesmas. "E eles [os santos] reinarão para todo o sempre" Ap 22:5. A Escritura não tem uma expressão maior para significar a eternidade do próprio Deus, do que a que Ele vive para todo o sempre: "Àquele que está assentado no trono e que vive para todo o sempre" - Ap 4:9 - também em Apocalipse 4:10; 5:14; 10:6; 15:7.

    Novamente, a Bíblia expressa a eternidade de Deus por esta expressão: que ela existirá para sempre, depois que o mundo chegar ao fim. "Eles perecerão, mas Tu permanecerás; envelhecerão como vestimentas. Como roupas Tu os trocarás e serão jogados fora. Mas Tu permaneces o mesmo, e os Teus dias jamais terão fim" Sl 102:26-27.
  4. A Escritura diz que os ímpios não serão libertos até que tenham pago o último centavo de sua dívida - Mt 5:26. O último centavo - Lc 12:59 - ou seja, até o último que é merecido, e toda misericórdia é excluída por esta expressão. Contudo, nós mostramos que eles merecem um infinito e interminável castigo.
  5. A Escritura diz de forma absoluta que a punição deles não terá fim: "Onde o seu verme não morre, e o fogo não se apaga" - Mc 9:44. Ora, não faz sentido dizer que o significado é que o seu verme viverá por um grande tempo, ou que ele existirá por um grande tempo antes que o fogo se apague. Se alguma vez chegar a hora em que o seu verme morrer, e se alguma vez houver a extinção total do fogo, então não é verdade que o seu verme não morre e que o fogo não se apaga. Pois se haverá a morte do verme e a extinção do fogo, que seja no momento que for, logo ou bem mais tarde, é igualmente contrário a tal negação: não morre, não se apaga. 
Segundo, há outros que admitem que a expressão das ameaças de fato denotam uma eternidade propriamente dita. Mas então, eles dizem, que não se infere de certeza que o castigo será realmente eterno, pois Deus ameaça, contudo não cumpre suas ameaças. Apesar de admitirem, sem qualquer reserva, que as ameaças são terminantes e decisivas, ainda assim eles dizem que Deus não é obrigado a cumprir em um todo as ameaças terminantes, como Ele é com relação às promessas terminantes. Porque nas promessas um direito é dado, o qual a criatura a quem as promessas são feitas irá reivindicar. Mas não há nenhum perigo de que a criatura reivindique qualquer direito por uma ameaça. Por isso irei agora mostrar que o que Deus declarou terminantemente neste assunto, de fato, torna certo de que acontecerá como Ele declarou. Para este fim, vou mencionar duas coisas:

  1. É evidentemente contrário à verdade divina, Deus terminantemente declarar que qualquer coisa seja verdadeira seja no passado, presente ou por vir se ao mesmo tempo Ele sabe que isto não é verdadeiro. Ameaçar de forma absoluta que algo acontecerá, é o mesmo que absolutamente declarar que assim será. Pois, supor que Deus de forma absoluta declara que algo acontecerá, o qual seja ao mesmo tempo sabido que não acontecerá, é blasfêmia, se existir tal coisa como blasfêmia.
    De fato, é realmente verdade que não há nenhuma obrigação sobre Deus, 
    decorrente da reivindicação da criatura, como existe nas promessas. Eles parecem considerar o caminho errado, imaginando que a necessidade da execução da ameaça surge a partir de uma obrigação posta sobre Deus, pela criatura, de executar o resultado de sua ameaça. Mas na verdade a certeza da execução surge de outra maneira, surge da obrigação que existia sobre o Deus onisciente, em ameaçar, e conformar a Sua ameaça ao que Ele sabia que seria executado no futuro. Embora, estritamente falando, Deus não seja, propriamente dito, obrigado pela criatura a executar o que ameaçou, ainda assim Ele não era, de maneira alguma, obrigado a ameaçar, se ao mesmo tempo Ele soubesse que não deveria ou não iria cumprir, pois isto não seria consistente com a Sua verdade. Portanto, na verdade de Deus há uma conexão inviolável entre as ameaças terminantes e a execução. Aqueles que supõem que Deus declarou terminantemente que Ele faria ao contrário do que sabia que iria acontecer, também supõem, que Ele absolutamente ameaçou ao contrário do que sabia ser verdade. E como pode alguém falar ao contrário do que ele sabe ser verdade declarando, prometendo, ameaçando, ou de qualquer outra maneira de forma consistente com a inviolável verdade? Isto é inconcebível.
    As ameaças significam algo, e se elas forem feitas de forma consistente com a 
    verdade, elas têm verdadeiros significados, ou significam a verdade daquilo que deve ser. Se as ameaças absolutas significam alguma coisa, elas significam o futuro do que foi ameaçado. Mas se o futuro do que foi ameaçado não for verdadeiro e real, então, como pode a ameaça ter um verdadeiro significado? E se Deus, nelas, fala ao contrário do que Ele sabe, e ao contrário do que Ele pretende, como pode Ele falar a verdade? Isto é inconcebível.
    Ameaças absolutas são uma espécie de previsão. E embora Deus não seja 
    definitivamente obrigado por causa de qualquer reivindicação nossa a cumprir as previsões a menos que sejam da natureza das promessas ainda assim certamente seria contrário à verdade prever que tal coisa aconteceria, a qual Ele paralelamente sabia que não aconteceria. Ameaças são declarações de algo futuro, e elas têm de ser declarações de verdades futuras se forem declarações verdadeiras. Se a questão fosse no presente, ela não seria diferente do que no futuro. É igualmente contrário à verdade, declarar ao contrário do que paralelamente se sabe ser a verdade, seja de coisas do passado, presente ou por vir: pois ambos são iguais para Deus.
    Além disso, temos nas Escrituras frequentes declarações do futuro castigo eterno 
    dos ímpios, sob a própria forma de previsões, e não na forma de ameaças. Assim como no texto: "E estes irão para o castigo eterno". Também, em frequentes afirmações do castigo eterno no Apocalipse, algumas das quais eu já citei. O Apocalipse é uma profecia, e é assim chamado no próprio livro. Assim também são as declarações do castigo eterno temos declarações similares em muitos outros lugares da Escritura.
  2. A doutrina daqueles que ensinam que não é certo que Deus cumprirá as ameaças absolutas, é blasfema, e é como se Deus de acordo com a suposição deles estivesse obrigado a fazer uso de uma falácia para governar o mundo. Eles confessam que é necessário que os homens receiem estarem sujeitos a um castigo eterno, para que assim eles sejam restringidos do pecado, e que Deus ameaçou tal castigo, com a própria finalidade de que eles acreditassem estarem expostos a este castigo. Mas que conceito indigno essa doutrina transmite sobre Deus, Seu governo, Sua majestade infinita, Sua sabedoria e auto suficiência! Além disso, eles supõem que, embora Deus tenha feito uso de tal falácia, ainda assim esta não é uma boa falácia, pois eles a detectaram. Embora Deus tenha planejado que os homens acreditariam nisso como certo que os pecadores são passíveis de um castigo eterno ainda assim eles supõem que foram tão astutos a ponto de descobrirem que o castigo não é certo. E então, que Deus não fez Seu projeto tão secreto, de modo que tais homens astutos como eles conseguiram discernir a fraude e anular o projeto, pois descobriram que não há nenhuma conexão necessária entre a ameaça do castigo eterno e a execução daquela ameaça.
    Considerando essas coisas, não é de se admirar grandemente, que o Arcebispo 
    Tillotson, que tem se destacado tanto entre os teólogos recém-formados, promoveria tal conceito como este?
    Antes de concluir este assunto, pode ser apropriado eu responder a uma ou 
    duas objeções que podem surgir na mente de alguns. 

Primeira Objeção

Pode ser dito aqui, que temos casos em que Deus não cumpriu as Suas ameaças, como a Sua ameaça a Adão, e através dele na humanidade, que eles certamente morreriam, se comessem do fruto proibido. Eu respondo: não é verdade que Deus não cumpriu essa ameaça. Ele cumpriu e cumprirá nos mínimos detalhes. Quando Deus disse: "Certamente morrerás" - Gn 2:17 - se considerarmos a morte espiritual, ela foi cumprida na pessoa de Adão no dia em que ele comeu. Pois imediatamente sua imagem, seu espírito santo e justiça original a qual foi a melhor e mais elevada vida de nossos primeiros pais foram perdidos, e eles passaram imediatamente a um estado sombrio de morte espiritual.

Se considerarmos a morte física, a ameaça também foi cumprida. Ele trouxe a morte sobre si mesmo e toda a sua posteridade, e ele virtualmente sofreu aquela morte no mesmo dia em que ele comeu. Seu corpo foi trazido a uma condição corruptível, mortal e degradativa, e assim permaneceu até que este se dissipou. Se olharmos para toda a morte que era abrangida na ameaça, ela foi, propriamente falando, cumprida em Cristo. Quando Deus disse a Adão: "Se comeres, morrerás", Ele não falou somente para ele, e dele pessoalmente, mas as palavras eram com respeito a humanidade, Adão e sua descendência, e sem dúvida assim foi entendido por ele.
Sua descendência deveria ser vista com o pecado dele, e portanto deveria morrer
com ele (cf. Rm 5:12-19).
As palavras fazem, assim como justamente permitem, a imputação tanto da morte quanto do pecado. Elas são bem consistentes tanto com a morte de um fiador, quanto com o pecado de alguém. Portanto, a ameaça é cumprida na morte de Cristo, o fiador.

Segunda Objeção

Outra objeção que pode surgir é a ameaça de Deus a Nínive. Ele ameaçou, que em quarenta dias Nínive seria destruída, o que por ora Ele não cumpriu. Eu respondo que esta ameaça não poderia justamente ser encarada de outra forma a não ser como condicional. Ela era da natureza de um aviso, e não de uma condenação absoluta. Por que Jonas foi enviado aos ninivitas, senão para dar-lhes o aviso a fim de que tivessem a oportunidade de se arrepender, reformar e evitar a destruição que se aproximava? Deus não tinha outro projeto ou finalidade em enviar um profeta a eles, senão que fossem advertidos e provados por Ele da mesma maneira como Deus advertiu os israelitas, Judá e Jerusalém, antes de sua destruição. Portanto, os profetas, juntamente com suas profecias da destruição que se aproximava, faziam fervorosas exortações ao arrependimento e a reforma, a fim de que a destruição fosse evitada.

Nada mais poderia ser justamente entendido por uma real ameaça, além de que Nínive seria destruída em quarenta dias se continuasse como era. Pois foi por causa de sua maldade que aquela destruição foi prenunciada, e assim os ninivitas entenderam. Portanto, quando a causa foi removida, o efeito cessou. Era contrário à maneira habitual de Deus, neste mundo, ameaçar uma punição e destruição de forma absoluta por causa do pecado, de forma que esta viesse inevitavelmente sobre as pessoas ameaçadas, impedindo que elas se arrependessem, reformassem e fizessem o que deveriam. "Se em algum momento eu decretar que uma nação ou um reino seja arrancado, despedaçado e arruinado, e se essa nação que eu adverti converter-se da sua perversidade, então eu me arrependerei e não trarei sobre ela a desgraça que eu tinha planejado" - Jr 18:78Portanto, todas as ameaças desta natureza tinham uma condição implícita nelas, de acordo com a forma conhecida e declarada do tratamento de Deus. E os ninivitas não tomaram isso como uma sentença absoluta de condenação: se tivessem, teriam desistido de qualquer benefício por meio do jejum e da reforma.

Mas a ameaça da ira eterna é terminante e absoluta. Não há nenhum lugar na Palavra de Deus onde podemos obter qualquer condição. A única oportunidade de escapar é neste mundo. Este é o único estado de provação, no qual temos qualquer oferta de misericórdia ou lugar para arrependimento.