quarta-feira, 24 de julho de 2013

Mentes "brilhantes" e pecadoras

Bookmark and Share Bookmark and Share

Recentemente assisti mais uma vez o filme "Uma Mente Brilhante", de 2001, justamente pra relembrar de mais detalhes dessa obra que venceu como melhor filme no Oscar e no Globo de Ouro, ambos de 2002. É mesmo um filme excelente e recomendo muito pra quem não assistiu, e a partir de agora seguem uns spoilers pra falar de alguns conceitos..
===========================================

O Filme é baseado na história real de John Forbes Nash, um matemático extremamente talentoso, mas extremamente anti-social e um tanto quanto soberbo.. Deixava de assistir as aulas para apresentar uma tese que fosse baseada em sua criatividade e não em ideias de terceiros e, mesmo obtendo êxito acadêmico e depois profissional, sua doença acabou sendo um inimigo feroz durante toda sua vida.

John tinha esquizofrenia, o que o levou a criar personagens em sua mente, com os quais ele interagia achando se tratar de pessoas reais. A doença criou em sua mente, ainda na época da preparação da sua tese, um amigo com quem acabava se relacionando e se expressando, sendo compreendido e protegido. Posteriormente surge um novo personagem lhe convocando para trabalhar para o governo norte-americano. Ele teria que fazer pesquisas intensivas em vários meios de comunicação em busca de códigos que ele deveria decifrar, para então descobrir quais eram os planos do governo comunista soviético contra sua nação, sendo que a suspeita era de ataque nuclear..
Tudo era criação de sua mente doente, mas que ele achava se tratar de pura realidade..

Com certeza John também teve seus relacionamentos reais, tendo feito algumas amizades no tempo de estudante, e inclusive se casado com uma ex-aluna. Essas eram pessoas reais e que faziam parte de sua vida de forma ativa, mas ele não conseguia fazer a distinção entre elas e os personagens fictícios, sendo que sequer sabia dessa situação até ser confrontado e convencido disso, após internação e tratamento para sua doença.


Observando essa trama e as circunstâncias relacionadas, estive pensando em como todos nós agimos de forma semelhante em alguns momentos.. Por mais que a maioria de nós não soframos com uma doença grave como essa, literalmente, temos um agravante que se não for combatido age também de forma degenerativa: O PECADO.
É fato que já nascemos com a natureza pecaminosa e mortos espiritualmente (Efésios 2:1), mas o pecado é algo que tende a nos contaminar cada vez mais, a ponto de levar a uma letargia caso não seja tratado (I Timóteo 4:2)..

A luta contra o pecado é algo constante na vida de uma pessoa regenerada, e sabemos que aqueles que não passaram pela conversão ainda são escravos dessa natureza pecaminosa de forma plena (Efésios 2:2-3). Sendo assim, convertidos ou não, em graus diferentes, todos os seres humanos sofrem com seus próprios pecados..


O filme me faz pensar sobre quantas vezes podemos ser arrogantes abraçando uma "realidade que não existe".. Não de uma forma literal, mas sempre que deixamos de dar ouvidos aos outros e assumimos determinada postura de forma individualista ou oportunista caímos nessa ilusão, ignorando todos os alertas sobre os nossos erros e nos "auto-exaltando" ao manter ao nosso lado somente os "aliados" que "dizem amém" a tudo o que fazemos ou dizemos..

Essa auto-exaltação (proposital ou não) pode nos levar a julgar e condenar da pior forma possível tudo que vai contra nossa ideologia. Desta forma podemos olhar à nossa volta e enxergar "verdades" que só existem pra nós mesmos, e até mesmo criar amizades que compartilhem dessas mesmas ilusões.. Amizades ilusórias também, muitas vezes..


Isso se dá muitas vezes pela ignorância também, mas sempre devido à arrogância. O mito da caverna de Platão mostra que podemos criar uma verdade que é apenas parcial e devido à ignorância a temos como absoluta. A arrogância está então em não buscarmos outras evidências e nos afastarmos delas quando são apresentadas.. Com isso se cria então uma "realidade" que, seja lá qual for, é incompleta ou errônea em suas interpretações..

Não é raro vermos essas características em pessoas ao nosso redor, teimosas, que acham sempre estão certas e todos que discordam estão errados (mesmo tendo às vezes um discurso hipócrita que soe humilde e piedoso), mas mais importante e necessário do que isso é a nossa auto-análise antes de atentarmos pra os pecados alheios.. (Mateus 7:3-5)



Mas então devemos abandonar toda ideia de verdade absoluta e nos tornarmos relativistas, pelo fato de não termos acessado a toda a realidade??
R = Com certeza NÃO.


A bíblia fala sobre a corrupção da natureza humana (Romanos capítulos 1, 2 e 3) e sobre o quanto é enganoso nosso coração (Gênesis 9:5, Jeremias 17:9), isso deve nos levar a uma auto-negação (Lucas 9:23) e não o contrário, de uma auto-exaltação. 

Sendo assim, qual deveria ser nossa postura pra não cairmos nesse erro??
O apóstolo Paulo disse:


Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos. Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros.Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens.

(Filipenses 2:3-7)


No livro de Provérbios também há textos bem claros sobre isso:

Todo o que ama a disciplina ama o conhecimento, mas aquele que odeia a repreensão é tolo.
(Provérbios 12:1)

O tolo não tem prazer no entendimento, mas sim em expor os seus pensamentos.
(Provérbios 18:2)

Você conhece alguém que se julga sábio? Há mais esperança para o insensato do que para ele.
(Provérbios 26:12)

Quem confia em si mesmo é insensato, mas quem anda segundo a sabedoria não corre perigo.  
(Provérbios 28:26)

Ambição, vaidade, egocentrismo e sentimento de auto-suficiência são sinais de insensatez, mas por outro lado, somos ensinados a sermos humildes e enxergar os outros como superiores, nos preocuparmos com os interesses deles e combater o orgulho.. Devemos saber ouvir a repreensão e aceitar a disciplina como algo positivo para nosso crescimento, além de sempre buscarmos conhecimento.


Voltando ao filme, quando John estava no ápice da doença e totalmente confuso em seu mundo ilusório, foram os amigos e a esposa que deram a ele todo o apoio que ele precisava.. Ou seja, a doença somada à sua soberba geraram personagens que de certa forma exaltavam seu ego, mas os laços reais de amizade e amor é que mostraram a verdade a ele..


O apóstolo Paulo questionou a igreja da Galácia sobre a reação quando ao invés de lhes agradar dizia a verdade:
Tornei-me inimigo de vocês por lhes dizer a verdade?
(Gálatas 4:16)

Mas ainda assim alguém poderia perguntar se não seria ainda relativismo dar ouvidos a outros, sendo que não somente o coração do ouvinte é enganoso, mas o do "conselheiro" também.. E teria razão.. 
É nesse ponto que entra a defesa do Sola Scriptura.


Já fiz um artigo que fala do quanto esse conceito é essencial para a Igreja, e o que devemos considerar é que todo aquele conselho ou argumento que foge dos princípios deve ser rejeitado. Portanto, podemos e até devemos (como um exercício apologético) ouvir o que as pessoas dizem, mas somente reter o que é bom (I Tessalonicenses 5:21), tendo em vista que somos nós que devemos nos adequar à Palavra de Deus e não o oposto.. A bíblia é quem traz a "voz" que sempre devemos ouvir e seguir (João 10:27) e o próprio Deus deu dons os homens para que ela pudesse ser exposta da forma correta para o nosso auxílio (Efésios 4:11-16).


Que não caiamos na armadilha de termos "mentes brilhantes" aos nossos próprios olhos. Evitemos sim as heresias e a comunhão com quem sabemos ser herege, mas sem que isso nos isole da realidade e impeça de aprender a cada dia.


Que Ele nos ajude!!