segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O Sola Scriptura e a "igreja democrática"

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Considerando que ontem foi comemorado o dia da bíblia, achei interessante escrever sobre o conceito de Sola Scriptura, que é um dos 5 Solas Protestantes, ou seja, uma das bases que os reformadores definiram como necessárias para a Igreja.

Na Declaração de Cambridge, encontramos as definições para essas 5 bases e suas aplicações para a igreja, mas vou me ater abaixo ao que essa declaração menciona sobre o Sola Scriptura:

SOLA SCRIPTURA: A Erosão da Autoridade
Só a Escritura é a regra inerrante da vida da igreja, mas a igreja evangélica atual fez separação entre a Escritura e sua função oficial. Na prática, a igreja é guiada, por vezes demais, pela cultura. Técnicas terapêuticas, estratégias de marketing, e o ritmo do mundo de entretenimento muitas vezes tem mais voz naquilo que a igreja quer, em como funciona, e no que oferece, do que a Palavra de Deus. Os pastores negligenciam a supervisão do culto, que lhes compete, inclusive o conteúdo doutrinário da música. À medida que a autoridade bíblica foi abandonada na prática, que suas verdades se enfraqueceram na consciência cristã, e que suas doutrinas perderam sua proeminência, a igreja foi cada vez mais esvaziada de sua integridade, autoridade moral e discernimento.
Em lugar de adaptar a fé cristã para satisfazer as necessidades sentidas dos consumidores, devemos proclamar a Lei como medida única da justiça verdadeira, e o evangelho como a única proclamação da verdade salvadora. A verdade bíblica é indispensável para a compreensão, o desvelo e a disciplina da igreja.
A Escritura deve nos levar além de nossas necessidades percebidas para nossas necessidades reais, e libertar-nos do hábito de nos enxergar por meio das imagens sedutoras, clichês, promessas e prioridades da cultura massificada. É só à luz da verdade de Deus que nós nos entendemos corretamente e abrimos os olhos para a provisão de Deus para a nossa sociedade. A Bíblia, portanto, precisa ser ensinada e pregada na igreja. Os sermões precisam ser exposições da Bíblia e de seus ensino, não a expressão de opinião ou de idéias da época. Não devemos aceitar menos do que aquilo que Deus nos tem dado.
A obra do Espírito Santo na experiência pessoal não pode ser desvinculada da Escritura. O Espírito não fala em formas que independem da Escritura. À parte da Escritura nunca teríamos conhecido a graça de Deus em Cristo. A Palavra bíblica, e não a experiência espiritual, é o teste da verdade.

Tese 1: Sola Scriptura
Reafirmamos a Escritura inerrante como fonte única de revelação divina escrita, única para constranger a consciência. A Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para nossa salvação do pecado, e é o padrão pelo qual todo comportamento cristão deve ser avaliado.
Negamos que qualquer credo, concílio ou indivíduo possa constranger a consciência de um crente, que o Espírito Santo fale independentemente de, ou contrariando, o que está exposto na Bíblia, ou que a experiência pessoal possa ser veículo de revelação. 


Conforme a própria declaração afirma antes de citar a tese do Sola Scriptura, muitas igrejas tem construído sua liturgia e pautado suas ações no pragmatismo e não na Palavra de Deus, e por isso mesmo muitas vezes vemos que ela mantem muitos membros. Dentre esses membros encontram-se os "ambulantes" - que passam certos períodos naquela denominação ou em outras mas não se firmam em alguma delas - e também os "ignorantes" - que até vivem uma vida religiosa sincera, mas sem o devido conhecimento bíblico do porquê ou para quê fazem o que fazem, e por isso mesmo nem sabem quando estão errando.
Além desses, com certeza encontramos também aqueles que buscam conhecimento da Palavra de Deus e demonstram uma fé genuína e sólida, e que por isso mesmo muitas vezes sofrem por "falta de alimentação" adequada, já que a igreja foca em manter os outros 2 grupos oferecendo "eternamente" somente o "leite", enquanto o alimento sólido é relegado..

Enfim, em prol de se manter os números ou mesmo quando se busca a qualidade a ser transmitida aos ouvintes mas em outras fontes que não a bíblia, os líderes erram na condução do ministério, e desta forma "criam" ovelhas sempre fracas e sujeitas aos tantos ventos de doutrina que surgem a cada dia..

Isso se dá exatamente pelo relativismo tão expressivo da nossa época, em que evita-se tocar em pontos que afastem pessoas e a façam refletir sobre a necessidade de arrependimento e mudança de vida; oferece-se em troca uma mensagem que não incomoda, mas pelo contrário, é agradável aos ouvidos e não desafia a esses ouvintes. É uma "mensagem democrática", pois não afirma a Palavra de Deus como reguladora do certo e do errado, mas apenas a apresenta como uma alternativa, uma opinião mediante todas as outras que o relativismo aceita.. Essa é a tendência do mundo pós-moderno, ninguém está errado, todas as opiniões devem ser admitidas.. É um pensamento de certa forma "ateu", e que se levado ao extremo aponta para o niilismo, ou seja, a relativização de todas as coisas gera a falta de sentido objetivo para a própria existência humana e todas as coisas em geral..

Com isso eu estaria sugerindo que os líderes eclesiásticos detém a verdade absoluta e os demais membros não tem o direito de se expressarem e deveriam segui-los sem restrição??
R = NÃO. Absolutamente NÃO.

Com isso eu estaria dizendo que o que a bíblia disser sobre determinado assunto deve ser sempre acatado??
R = SIM. Com toda certeza.


Voltando à Reforma Protestante, uma das 'reivindicações' dos reformadores era a de que cada cristão pudesse ter a bíblia em seu próprio idioma para que desta forma tivesse acesso à Palavra de Deus e a estudassem. Era isso o que os cristãos de Beréia faziam:
Os bereanos eram mais nobres do que os tessalonicenses, pois receberam a mensagem com grande interesse, examinando todos os dias as Escrituras, para ver se tudo era assim mesmo.
(Atos 17:11)

O próprio Lutero, quando foi obrigado na Dieta de Worms a negar seus ensinos e acatar ao que a igreja católica romana determinava através de seu papa, afirmou:
"A menos que me convençam, pela Escritura ou por razões claras, de que estou errado, eu permaneço constrangido pelas Escrituras. Não posso nem quero me retratar, de vez que não é seguro nem correto agir contra a consciência. Deus me ajude. Amém".

Ou seja, aquilo que os líderes ensinam somente deve ser obedecido se verdadeiramente tiver embasamento bíblico. Neste caso o cristão deve sim obedecer e negar qualquer opinião que venha de si mesmo:
Obedeçam aos seus líderes e submetam-se à autoridade deles. Eles cuidam de vocês como quem deve prestar contas. Obedeçam-lhes, para que o trabalho deles seja uma alegria e não um peso, pois isso não seria proveitoso para vocês.
(Hebreus 13:17)

Então algo que a Reforma Protestante visava era tirar o monopólio de interpretação bíblica dos líderes religiosos e deixá-lo mais "democrático", porém de nenhuma forma colocando a opinião humana acima daquilo que a bíblia ensina..

A "democracia" que a igreja deve experimentar então se refere ao fato de qualquer membro poder exortar um líder quando aquilo que este prega não confere com o que a bíblia ensina, ele deve ter essa liberdade, mas jamais tem o direito de "crer no que quiser" usando como desculpa uma interpretação individual e equivocada das Escrituras:
Assim, temos ainda mais firme a palavra dos profetas, e vocês farão bem se a ela prestarem atenção, como a uma candeia que brilha em lugar escuro, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em seus corações.

Antes de mais nada, saibam que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo
(2 Pedro 1:19-21)

Nada do que foi escrito foi fruto de interpretação pessoal, mas sim de inspiração divina, então da mesma forma a interpretação desses escritos deve ser única, utilizando-se corretamente a hermenêutica e a exegese em casos que aparentemente permitem interpretações variadas..

E aí é importante ressaltar outro ponto importante, que é a necessidade dos mestres..
E Ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado, até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo. 
(Efésios 4:11-13)


Como eu disse antes, todos devem examinar a bíblia para verificar o que ela nos ensina, porém certamente Deus deu dons a determinadas pessoas, as capacitando a compreender e ensinar aquilo que muitas vezes não é tão claro para muitos.

Através dessa capacitação divina, essas pessoas se dedicam a estudar a fundo a Palavra de Deus, e por isso mesmo devemos tê-las como referências e honrá-los, porém sabendo que também podem errar, e que certamente serão julgados rigorosamente em relação aos seus ensinos:

Meus irmãos, não sejam muitos de vocês mestres, pois vocês sabem que nós, os que ensinamos, seremos julgados com maior rigor
(Tiago 3:1)
Os presbíteros que lideram bem a igreja são dignos de dupla honra, especialmente aqueles cujo trabalho é a pregação e o ensino, 
(1 Timóteo 5:17)

Então, resumidamente, aqueles que demonstram ter o dom para ensinar, expressando amor à Palavra de Deus, devem ser honrados por isso e ouvidos em seus ensinos, mas sempre julgados naquilo que dizem. Julgados justamente segundo a Palavra de Deus..

A "democracia" ocorre em não haver "intocáveis" no corpo de Cristo, mas não tem cabimento no que diz respeito a interpretações pessoais serem todas válidas, já que a bíblia diz que não são (como já foi mostrado)..


Desta forma, a bíblia deve ser vista como suficiente para nossa instrução em todas as áreas da vida, por isso mesmo que é dito que devemos ler E MEDITAR no seu conteúdo:
Como é feliz aquele que não segue o conselho dos ímpios, não imita a conduta dos pecadores, nem se assenta na roda dos zombadores!
Ao contrário, sua satisfação está na lei do Senhor, e nessa lei medita dia e noite 
(Salmos 1:1-2)

A lei do Senhor é perfeita, e revigora a alma. Os testemunhos do Senhor são dignos de confiança, e tornam sábios os inexperientes.

(Salmos 19:7)

Quanto a você, porém, permaneça nas coisas que aprendeu e das quais tem convicção, pois você sabe de quem o aprendeu.
Porque desde criança você conhece as sagradas letras, que são capazes de torná-lo sábio para a salvação mediante a fé em Cristo Jesus.

Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra. 
(2 Timóteo 3:14-17)

Enquanto cristãos, não devemos concordar que qualquer opinião anti-bíblica seja nem ao menos praticada na igreja, quanto menos ensinada. E sobre aquilo que é 'extra-bíblico', de forma alguma pode ter o mesmo peso que a Palavra de Deus.
Os líderes são os principais responsáveis em lutar contra todo tipo de ensino mentiroso na igreja, e não tem o direito de menosprezar tais erros criando "graus de importância" para eles, como se "errinhos" não importassem..
Um pouco de fermento leveda toda a massa.
(Gálatas 5:9)

Há sim temas que são de difícil interpretação, mas a verdade é única.. Temas como escatologia, por exemplo, são complexos a ponto de dividirem a opinião de grandes teólogos durante séculos, mas isso não significa que todos estejam certos.
Em temas como esse é considerável a tolerância de opiniões diferentes pelo fato de envolver fatos futuros, mas é justo que se exija sempre embasamento de quem afirma sua posição.. Já em casos nos quais se defende, por exemplo, "maldição hereditária", "confissão positiva", "transferências de unção" ou qualquer bizarrice parecida, deve-se sempre rejeitar o ensino pela falta de base bíblica..


Toda instrução que precisamos para nossas vidas está na bíblia, então toda opinião humana é descartável quando não a tem como base ou quando vai contra o que ela ensina.


Com certeza restringir o ensino na igreja ao "Sola Scriptura" vai afastar pessoas e, é isso mesmo que deve acontecer:
Eles saíram do nosso meio, mas na realidade não eram dos nossos, pois, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; o fato de terem saído mostra que nenhum deles era dos nossos. (1 João 2:19)

Isso porque aqueles que não pertencem verdadeiramente a Deus não aceitam a verdade, e ficam incomodados por terem suas heresias apontadas:
E até importa que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós. (1 Coríntios 11:19)
"Vocês pertencem ao pai de vocês, o diabo, e querem realizar o desejo dele. Ele foi homicida desde o princípio e não se apegou à verdade, pois não há verdade nele. Quando mente, fala a sua própria língua, pois é mentiroso e pai da mentira.
No entanto, vocês não crêem em mim, porque lhes digo a verdade!
Qual de vocês pode me acusar de algum pecado? Se estou falando a verdade, porque vocês não crêem em mim?
Aquele que pertence a Deus ouve o que Deus diz. Vocês não ouvem porque não pertencem a Deus".
(João 8:44-47)


A pregação do verdadeiro evangelho torna indesculpável qualquer ouvinte, nunca volta vazia em seu propósito (salvar e exortar ao pecador arrependido ou para condenar o que não se arrepende):
Busquem o Senhor enquanto se pode achá-lo; clamem por ele enquanto está perto.
Que o ímpio abandone seu caminho, e o homem mau, os seus pensamentos. Volte-se ele para o Senhor, que terá misericórdia dele; volte-se para o nosso Deus, pois ele perdoará de bom grado.
"Pois os meus pensamentos não são os pensamentos de vocês, nem os seus caminhos são os meus caminhos", declara o Senhor.
"Assim como os céus são mais altos do que a terra, também os meus caminhos são mais altos do que os seus caminhos e os meus pensamentos mais altos do que os seus pensamentos.
Assim como a chuva e a neve descem dos céus e não voltam para ele sem regarem a terra e fazerem-na brotar e florescer, para ela produzir semente para o semeador e pão para o que come, assim também ocorre com a palavra que sai da minha boca: Ela não voltará para mim vazia, mas fará o que desejo e atingirá o propósito para o qual a enviei.
(Isaías 55:6-11)
Há um juiz para quem me rejeita e não aceita as minhas palavras; a própria palavra que proferi o condenará no último dia.
Pois não falei por mim mesmo, mas o Pai que me enviou me ordenou o que dizer e o que falar. 
(João 12:48-49)

Então que esse ministério da pregação e ensino do evangelho seja realizado com o maior temor por aqueles que foram eleitos por Deus para isso, pois a mensagem que transmitem é o que salva (pela fé) ou condena os ouvintes.. Que se atentem à necessidade de serem fieis ao que a bíblia sagrada ensina para que não sejam responsáveis por ensinos mentirosos e nem omissos ao defender essas verdades, pois certamente serão cobrados por isso..

Por fim, recomendo a todos aqueles que pertencem a lideranças em suas igrejas e que lerem este artigo que assistam também esse vídeo:





Que DEUS tenha misericórdia de todos nós e capacite nossos líderes e mestres!!!