quinta-feira, 3 de março de 2011

Mateus 23:37 (Vincent Cheung) Parte 02 de 02

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Jesus não mudou o assunto quando ele chega ao versículo 37. O versículo seguinte ainda se refere à destruição do templo: “Eis que a casa de vocês ficará deserta” (v. 38). De fato, como já observamos, ele ainda está no mesmo assunto com o qual Mateus 24 começa. E é com  este  pano de fundo em mente que deveríamos ler nosso versículo: “Jerusalém, Jerusalém, você, que mata os profetas e apedreja os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram”.
Aqui “Jerusalém” não se refere à cidade física, ou a toda pessoa considerada individualmente na cidade. “Jerusalém” é dita ser aquela que “mata os profetas”, e no contexto, aqueles que matariam os profetas são os líderes do povo – incluindo os escribas e fariseus. Eles imitam seus antepassados que “assassinaram os profetas” (ver v. 29-32). No versículo 34, Jesus diz que ele está prestes a enviá-los profetas e mestres, e estes lideres iriam maltratá-los assim como os seus antepassados maltrataram os antigos profetas: “Por isso, eu lhes estou enviando profetas, sábios e mestres. A uns vocês matarão e crucificarão; a outros açoitarão nas sinagogas de vocês e perseguirão de cidade em cidade”.
Quanto aos “filhos” no versículo 37, naturalmente eles eram as pessoas que viviam sob a autoridade e direção destes líderes. Líderes religiosos e políticos são algumas vezes chamados de “pais” na Escritura (Atos 7:2, 22:1), e aqueles sobre quem eles exercem poder e influência são chamados de “filhos” (Mateus 12:27; Isaías 8:18).
Deveríamos observar primeiro, então, que este versículo não pode se referir à disposição ou à fé de indivíduos para aceitar o evangelho, pois de outra forma o versículo deveria dizer: “Eu quis reunir  vocês ... mas  vocês  não quiseram”, ou “eu quis reunir os  seus filhos ... mas  seus filhos  não quiseram”. Mas o versículo diz: “Eu quis reunir os  seus filhos ... mas  vocês  não quiseram”. Não foram os “filhos” que resistiram, mas o “vocês” que resistiram para evitar os “filhos” de serem reunidos. O versículo, portanto, está se referindo à mesma coisa já mencionada no versículo 13: “Vocês mesmos não entram, nem deixam entrar aqueles que gostariam de fazê-lo”.
Os Arminianos podem afirmar a liberdade humana e negar que Deus controla diretamente uma pessoa para crer ou descrer. Mas tendo negado o controle a Deus, supomos que nem mesmo eles são tolos o suficiente para então voltar e atribuir a líderes   humanos  políticos e religiosos o controle interno direto sobre as mentes do povo, como se os fariseus possuíssem maior controle do que Deus sobre as pessoas, de forma que eles poderiam ter misericórdia de quem quisessem ter misericórdia, e endurecer a quem eles desejassem endurecer. Não, é evidente que os versículos 13 e 37 estão se referindo a como os líderes humanos impediam os profetas sobre um nível puramente humano e externo, para evitar que a mensagem deles chegasse até o povo, e para evitar que o povo abraçasse tal mensagem. Jesus está falando sobre uma influência social e externa, não de um poder metafísico e interno.
Segue-se, então, que o “eu  quis” no versículo 37 está se referindo ao relacionamento de Jesus com aqueles líderes e o povo deles sobre um nível humano e externo. Não há nenhuma indicação neste versículo de que o desejo divino ou o decreto divino pode ser resistido com sucesso simplesmente porque alguém “não está querendo”. A Bíblia é clara sobre o ensino de que, se alguém está indisposto, é porque Deus o tornou  indisposto (João 12:40; Romanos 9:18, 11:7), e se alguém está disposto, é porque Deus o  tornou  disposto (João 6:44, 65). Ninguém que Deus torne indisposto pode vir (João 6:44), e ninguém que Deus torne disposto pode recuar (João 6:37).
Uma objeção que pode se levantar é que o que é atribuído ao “eu” aqui não pode ser realizado por Jesus considerando-se um nível puramente humano. Mas em quase qualquer outro contexto, talvez numa discussão sobre a deidade de Cristo, até mesmo os Arminianos admitiriam que como Deus-homem, a Escritura nem sempre distingue meticulosamente o que é atribuído à sua natureza divina e o que é atribuído à sua natureza humana. Nós podemos fazer a distinção quando devemos, mas a Escritura nem sempre faz esta distinção.
Por exemplo, em João 4:10, Jesus é ao mesmo tempo alguém que pede água para beber, e alguém que dá água viva. Mas Jesus em sua natureza divina não pode ficar com sede. Em Atos 3:15, Pedro diz aos judeus: “Vocês mataram o autor da vida”.
Mas Jesus em sua natureza divina não poderia ser morto. Certamente, este não é um problema para a inspiração da Escritura, para a deidade de Cristo ou para a doutrina da encarnação. Antes, é um testemunho do fato de que a natureza divina e a natureza humana estão de fato intimamente unidas em Cristo, e, todavia, ainda permanecem distinguíveis, de forma que não há nenhuma mistura ou confusão. Uma não é divinizada, e a outra não é humanizada.
De qualquer forma, é possível responder a objeção a partir do próprio versículo.
Observe que o envio dos profetas não é atribuído ao “eu”; antes, somente a reunião dos filhos é assim atribuído. E visto que a reunião está se referindo ao ministério sobre um nível humano e externo, isto não demanda um assunto divino. O fato de que um ministério é resistido num nível humano não diz nada sobre a soberania divina ou a liberdade humana sobre um nível metafísico.
Embora possamos trazer à tona detalhes adicionais para fortalecer o caso, nosso presente esforço foi mais do que suficiente. Já mostramos que o versículo não concede nenhum suporte à heresia do Arminianismo, e urgimos que seus aderentes abandonem seu pensamento humanístico para abraçar a doutrina bíblica.
Nem pode o falso esquema do Calvinismo inconsistente encontrar refúgio aqui, visto que nosso caso se aplica igualmente contra eles e o uso impróprio deste versículo por eles, por exemplo, em seus ensinos sobre a “oferta sincera” do evangelho e sobre a tensão entre os desejos contraditórios na mente de Deus. Nós urgimos que os aderentes desta teologia anti-bíblica abandonem seu irracionalismo, e finalmente removam todos os traços da heresia Arminiana do seu pensamento. 


EXTRAÍDO DE:
http://www.monergismo.com/textos/comentarios/mat23-37_cheung.pdf