terça-feira, 1 de março de 2011

O Dom da Fé (James R. White)

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O Dom da Fé 
por 
James R. White 

A graça soberana é ofensiva ao Arminiano, porque ela esmaga o orgulho humano e exalta a liberdade do Oleiro. O resultado conseqüente da graça irresistível é a verdade bíblica de que a fé é um dom de Deus. Visto que este é um assunto particularmente repreensível a EML (Eleitos Mas Livres, livro de Norman Geisler, que no Brasil foi publicado pela Editora Vida), apresentaremos aqui somente algumas das passagens mais óbvias que ensinam esta verdade e deixar uma defesa mais completa da posição Reformada para o próximo capítulo, onde responderemos às afirmações do Dr. Geisler.
Paulo começou muitas das suas epístolas com ação de graças a Deus pelo amor e pela fé dos cristãos a quem ele estava escrevendo. Por exemplo:
Graças damos a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, orando sempre por vós, porquanto ouvimos da vossa fé em Cristo Jesus, e do amor que tendes para com todos os santos; (Colossenses 1:3-4)
Sempre devemos, irmãos, dar graças a Deus por vós, como é justo, porque a vossa fé cresce muitíssimo e o amor de cada um de vós aumenta de uns para com os outros; (2 Tessalonicenses 1:3)
Por que deveríamos agradecer a Deus pela fidelidade dos cristãos? Por que deveríamos ser gratos a Deus, quando ouvimos da fé dos outros, ou vemos sua fé aumentando? Se a fé é algo dentro da capacidade de todo inimigo não-regenerado de Deus, por que deveríamos agradecer a Deus quando uma pessoa exercita a mesma? A menos, é claro, que a fé encontre sua origem no próprio Deus e seja, como nós cremos, um dom. Isto é o que Paulo ensinou:
Paz seja com os irmãos, e amor com fé, da parte de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo. A graça seja com todos os que amam a nosso Senhor Jesus Cristo com amor incorruptível. (Efésios 6:23-24)
A paz cristã, o amor cristão e a fé cristã, tudo vem “de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo”. Note como amor, paz e fé aparecem nesta passagem famosa, mostrando também que elas não vêm de nós, mas de Deus:
Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade. (Efésios 5:22)
Embora a tradução fale de “fidelidade”, a palavra grega é simplesmente “fé”. Paulo ensina isto ainda mais explicitamente aos Filipenses:
Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele, (Filipenses 1:29)
Aqui Paulo fala de duas coisas que foram “concedidas” aos cristãos. O termo “concedido” é o termo grego  ecarisqh, do termo charizomai, “dar como um dom”. E, o que foi “concedido” aos crentes? O olho corre para o final da frase, “padecer por ele”. Isto é o que a mente parece absorver quando lemos a passagem. Tem sido concedido como um dom o padecer por Cristo! Que pensamento estranho para muitos hoje que não experimentam perseguição e sofrimento, mas certamente não o era para aqueles a quem Paulo estava escrevendo. Mas, assim como o sofrimento não é algo produzido pelo nosso “livre-arbítrio”, assim também o é com a primeira coisa nos concedida: crer em Cristo. Este é o termo normal usado para a fé salvadora (pisteuein). Deus nos concedeu o crer em Cristo. Por que isso seria concedido já que, como somos informados, qualquer um pode  pisteuein, pode “crer”?
O escritor aos Hebreus sabia algo sobre a origem da fé, que é vital para entendê-la também:
Portanto nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus. (Hebreus 12:1-2)
Jesus é descrito como o “autor e consumador” da fé. As palavras gregas escolhidas pelo autor são mais interessantes: archgon kai teleiwthnArchegon refere-se à origem, fonte, começo, e então, por extensão, à autor. Teleiotes refere-se a alguém que completa ou aperfeiçoa. Considere o que isto significa: Jesus é a origem e fonte da fé, o objetivo da fé, aquele que completa e aperfeiçoa a fé. Certamente, parece que toda a vanglória por parte do vaso, por ter contribuído com seu livre-arbítrio para crer, é deixada de lado, não parece? Para os cristãos estas são palavras preciosas. Quando estamos fracos, quando estamos desencorajados, quando parece que possivelmente não poderemos continuar, qual é a nossa única confiança? Cristo. Deus não abandonará os Seus. Somos deveras guardados pelo poder da fé, mas não uma fé meramente humana, mas uma fé divina, um dom de Deus! Por que alguns tropeçam e caem, enquanto outros perseveram? É que alguns são melhores e mais fortes do que outros? Não. A razão descansa na diferença entre ter fé salvadora e ter uma fé que não é divina na origem ou natureza. Muitos são aqueles que fazem uma profissão de fé não baseada na regeneração, e a “fé” que é deles não sobreviverá. Jesus ensinou esta verdade na parábola do solo em Mateus 13:3-9, 18-23. Algumas das sementes que foram semeadas resultaram em crescimento imediato. Mas o crescimento não produziu fruto e não sobreviveu. Estes são aqueles que têm uma fé falsa, humana, que não persevera. Mas aqueles com verdadeira fé produzem fruto e permanecem.
Uma vez que esta verdade é entendida, podemos vê-la sendo mencionada freqüentemente na Escritura. Veja com atenção como Pedro se refere à fé:
E pela fé no seu nome fez o seu nome fortalecer a este que vedes e conheceis; sim, a fé que vem por ele, deu a este, na presença de todos vós, esta perfeita saúde. (Atos 3:16)
A fé vem através de quem? Cristo. Isto é o porquê Pedro pôde escrever anos mais tarde:
E por ele credes em Deus, que o ressuscitou dentre os mortos, e lhe deu glória, para que a vossa fé e esperança estivessem em Deus; (1 Pedro 1:21)
Somos crentes através dEle, não através de nós mesmos. Fé é um dom, a possessão universal de todos os crentes. Mais umas poucas passagens que testificam esta verdade:
E a graça de nosso Senhor superabundou com a fé e amor que  em Jesus Cristo. (1 Timóteo 1:14)
Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco receberam uma fé igualmente preciosa pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo. (2 Pedro 1:1)
Deveras, arrependimento é, da mesma forma, designado como um dom na Escritura, e dada a relação íntima entre a fé salvadora e o arrependimento, esta prova adicional prova a posição Reformada:
E ao servo do Senhor não convém contender, mas sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; Instruindo com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade, e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em que à vontade dele estão presos. (2 Timóteo 2:24-26)
Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento?(Romanos 2:4)

Efésios 2:8-9
A despeito da riqueza do testemunho da Escritura vista acima, muitos se focam quase que unicamente na citação de Efésios 2:8-9 quando vêm para o debate entre Arminianos e Calvinistas. E embora o ensino deste versículo seja importante, certamente ele não é a principal base sobre a qual a verdade da natureza divina da fé salvadora deve ser baseada. As benditas palavras são bem conhecidas:
Porque pela graça sois salvos, através da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie; Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas. (Efésios 2:8-10)
Esta passagem elimina o fundamento de todos e cada um dos sistemas de salvação-pelas-obras, e de qualquer ensino que nos diga que nossas realizações, nossas obras, nossos esforços, são necessários para trazer a salvação. E é uma crítica vazia dizer que Paulo fala aqui somente da simples provisão da possibilidade de salvação. Ele diz que seus leitores foram salvos pela graça através da fé, não “feitos salváveis”. Eles já tinham entrado no estado de salvação e continuavam nele. Os meios de sua salvação são ditos ser pela graça, livre graça. Eles foram salvos através da fé.
Até este ponto todos concordam, pelo menos nos assuntos básicos. O debate começa com a próxima frase: “e isto não vem de vós, é dom de Deus”. O assunto básico é, “a que a palavra 'isto' se refere?” O termo grego é  touto, um pronome neutro singular demonstrativo. A regra básica é procurar um pronome neutro singular no contexto imediato, como o antecedente do pronome. Todavia, não há nenhum pronome neutro na primeira frase de Efésios 2:8. “Graça” é singular feminino; “sois salvos” é um particípio masculino; “fé” é singular feminino. Assim, a que touto se refere?
A resposta simples é: a toda frase porque pela graça sois salvos, através da fé”. É uma boa gramática grega usar um pronome neutro para abranger uma frase ou uma série de pensamentos numa simples palavra. O ponto de Paulo é que a inteireza da obra da salvação é um dom de Deus, não obra do homem. Tudo dela é livre, tudo dela é divino, não humano.
E sobre a reivindicação de que Efésios 2:8 ensina que a fé é um dom de Deus? É comum para os Arminianos apontarem triunfantemente que, visto que “fé” é feminino e “isto” é neutro, fé não pode ser um dom. Mas isto é somente parcialmente verdadeiro. O Arminiano terá que admitir que a graça mencionada em Efésios 2:8 é um dom: todavia, ela é feminino singular também, o que, se seguirmos o raciocínio dele, significaria que a graça não é um dom, não mais do que a fé o é. Tal argumentação é muito superficial para permitir que uma conclusão significativa seja extraída.
Não há razão, contextual ou gramatical, para aceitar que o fato de que dois dos três elementos substantivos [1] (graça e salvação) sejam um “dom”, enquanto que o terceiro, fé, seja uma contribuição estritamente humana. A inteira teologia de Paulo, incluindo o fato de que ele especificamente se refere à fé como algo que nos é “concedido” (Filipenses 1:29), indica que todos os três elementos juntos constituem um dom singular de Deus, porque certamente a graça é Sua, para livremente dar; a salvação é Sua, para livremente dar, e da mesma forma, a fé salvadora é o dom de Deus dado aos Seus eleitos.


Extraído e traduzido do livro “The Potter's Freedom”, de James R. White. Este livro é uma defesa das doutrinas da Reforma e uma refutação do livro Eleitos Mas Livres, de Norman Geisler.


Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 27 de Fevereiro de 2005.


Extraído de:
http://www.monergismo.com/textos/fe/dom_fe_white.htm
Anônimo disse...

Muito bom o texto!
Antes de entrar aqui estava pensando justamente sobre isso (Fé) e o texto foi esclarecedor! :)
Sobre Efésios 2 sempre achei que estava se referindo a salvação como o dom de Deus, ai na PCC o povo explicou que era a fé o dom e agora aqui fala da fé, da salvação e da graça como sendo dons de Deus...interessante!
(Déborah)

Barrabás disse...

Verdade Deborah..
Quando eu conheci o calvinismo aprendi que a fé é o dom, mas agora eu vejo que a Graça e a Salvação tb são.. ;)