domingo, 16 de fevereiro de 2014

O Que o Cessacionismo Não É (por Nathan Busenitz) - Parte 01 de 02

Bookmark and Share Bookmark and Share
Extraído de: Metanoia e Reforma

Nos últimos anos, investiguei o registro histórico sobre os dons carismáticos, especialmente o dom de línguas.  Espero que o pastor citado, e seu co-autor, tratem o material de forma responsável em seus futuros trabalhos sobre o assunto (Quem sabe, talvez eles poderiam estar abertos a um livro com dois pontos de vista?)


Além disso, também espero que, ao criticar a posição cessacionista, os autores não criem uma caricatura do cessacionismo.  (Vou admitir que, com base no que li até agora, tenho medo de que a caricatura já esteja em construção.)

Contudo, em um esforço para desmantelar uma deturpação falaciosa antes de ser construída, ofereço os quatro seguintes esclarecimentos sobre o que o  cessacionismo não é:

Cessacionismo não é contra o sobrenatural e nem nega a possibilidade dos milagres.

Quando se trata de compreender a posição cessacionista, a questão não é seDeus continua a fazer milagres hoje? Cessacionistas reconheceriam prontamente  que Deus pode agir a qualquer momento e da maneira que Ele escolher. John MacArthur explica que: 

Milagres na Bíblia (primariamente) ocorreram em três grandes períodos de tempo. O tempo de Moisés e Josué, o tempo de Elias e Eliseu, e o tempo de Cristo e os apóstolos.   . . . E durante esses três breves períodos de tempo, e somente neles, os milagres proliferaram; eles eram a norma, eram em abundância. Agora, Deus pode interpor-Se no fluxo humano sobrenaturalmente a qualquer hora que Ele quiser. Nós não o limitamos. O que simplesmente dizemos é que Ele escolheu limitar a Si mesmo em grande medida àqueles três períodos de tempo.

Assim, o cessacionismo não nega a realidade de que Deus pode fazer o que Ele quiser, sempre que Ele quiser. (Salmo 115:3). O cessacionismo não coloca Deus numa caixa ou limita sua prerrogativa soberana.

Ele reconhece que havia algo único e especial sobre o período e realização de milagres que definiu os ministérios de Moisés e Josué, Elias e Eliseu, e Cristo e seus apóstolos. Além disso, ele reconhece o fato aparentemente óbvio que esses tipos de milagres (como a divisão do mar, a interrupção da chuva, a ressurreição dos mortos,o andar sobre a água, ou a cura instantânea de coxos e cegos) não estão ocorrendo hoje.

Assim, os cessacionistas concluem que:

A era apostólica foi maravilhosamente única e está finalizada. E o que aconteceu nesse tempo, portanto, não é o paradigma para a vida cristã.O paradigma para a vida cristã é estudar a Palavra de Deus, que é capaz de nos tornar sábios e perfeitos. (Isto) é viver pela fé e não por vista.  (Ibid.)

Mas, será que Deus ainda pode fazer coisas extraordinárias no mundo de hoje?  Certamente que sim, se Ele escolher. Na verdade, cada vez que os olhos de um pecador são abertos para evangelho, e uma nova vida em Cristo é criada, isto nada mais é do que um milagre.

Em seu útil livro, Continua? Samuel Waldron habilmente expressa a posição cessacionista desta forma: 102):

Não estou negando os milagres no mundo de hoje no sentido mais amplo de ocorrências sobrenaturais e providências extraordinárias. Estou apenas dizendo que não existem milagres no sentido mais estrito dos operadores de milagres, que se utilizam de sinais miraculosos para atestar a revelação redentora de Deus. Embora Deus nunca tenha se colocado para fora do Seu mundo, e ainda tenha liberdade para fazer o que Lhe apraz, quando Lhe apraz, como Lhe apraz, e onde Lhe apraz, Ele deixou claro que o progresso da revelação redentora, atestada por sinais miraculosos feitos por operadores de milagres, terminou na revelação apresentada no Novo Testamento.

Portanto, a questão não é: Deus ainda faz milagres?  

Em vez disso, a questão definitiva deve ser esta: Os dons miraculosos do Novo Testamento continuam operando  hoje na igreja de tal forma que o que era norma nos dias de Cristo e dos apóstolos  deva ser esperado hoje?

A isso, todo cessacionista responderia que "não".

O Cessacionismo não é fundamentado em uma única interpretação do "perfeito" em I Coríntios 13:10.

Com relação a esse assunto, parece que existe tantas abordagens sobre “o perfeito” entre os eruditos cessacionistas quanto existem comentaristas que escrevem a respeito de 1 Coríntios 13:8-13. O espaço desse artigo não permite uma investigação completa sobre o tema, mas somente uma rápida explanação das principais posições.

As diferentes visões:

(1) Alguns (como F.F. Bruce) argumentam que o próprio amor é o perfeito. Assim, quando a plenitude do amor vier, os coríntios deixarão seus desejos infantis.

(2) Alguns (como B.B. Warfield) afirmam que o cânon completo da Escritura é o perfeito. A Escritura é descrita como "perfeita em Tiago 1:25, um texto em que a mesma palavra para “espelho” (como no v. 12) é encontrada (em Tiago 1:23). Assim, a revelação parcial será aniquilada quando chegar a plena revelação da Escritura. 

(3) Alguns (como Robert Thomas) afirmam que  a maturidade da igreja é o perfeito.  Esta abordagem é baseada na ilustração do verso 11 e a conexão entre esta passagem e Ef.  4:11–13. O momento exato da "maturidade" da igreja é desconhecido,embora embora esteja muito associada ao fechamento do cânon e o fim da era apóstolica. (cf. Ef.  2:20).

(4) Alguns (como Thomas Edgar) veem a condução do crente à presença de Cristo (no momento da morte) como o perfeito. Esta perspectiva considera o aspecto pessoal da afirmação paulina no verso 12. A experiência pessoal de Paulo do pleno conhecimento quando ele for conduzido a presença de Cristo em sua morte. (cf. 2 Co. 5:8).

(5) Alguns (como Richard Gaffin) veem o retorno de Cristo (e o fim desta era) como o perfeito. Este é o mesmo ponto de vista da maioria dos continuístas. Assim, quando Cristo voltar (como descrito no capítulo 15), a revelação parcial, como nós conhecemos agora, será completada.

(6) Alguns (como John MacArthur) compreendem  O estado eterno (no sentido geral) como o perfeito. Esta posição interpreta o neutro de to teleion como uma referência ao sentido geral dos eventos e não ao retorno pessoal de Cristo. Esta perspectiva combina as posições 4 e 5, citadas acima. De acordo com esta perspectiva: "Para os cristãos, o estado eterno inicia na morte, quando se encontram com o Senhor ou no arrebatamento, quando o Senhor o tomar para Si. (John MacArthur, Primeira Coríntios, p. 366).

Destas perspectivas, eu acho as três ultimas mais convincentes do que as três primeiras. Isto se deve principalmente, (eu confesso) ao testemunho da história da igreja. Dr. Gary Shogren, após um profundo estudo de mais de 169 referências patrísticas a esta passagem, conclui que a vasta maioria dos Pais da Igreja entendiam o perfeito como algo que está além desta vida(normalmente associando-o com o retorno de Cristo ou ao retorno de Cristo no céu.  Até mesmo João Crisóstomo (que era claramente um cessacionista) via desta maneira.  Embora não seja determinante, tal evidência histórica é de difícil rejeição.

Em todo caso, meu ponto aqui é simplesmente este: O intérprete pode tomar qualquer uma das posições acima e ainda permanecer cessacionista.  De fato, existem cessacionistas sustentando cada uma das posições listadas (como os nomes listados indicavam).

Deste modo, Anthony Thiselton observa em seu comentário sobre esta passagem: 

"O único ponto importante aqui é que poucos ou nenhum dos argumentos dos 'cessacionistas' sérios dependem de uma exegese específica de 1 Cor 13:8-11 . . . Estes versos não devem ser usados como polêmica em nenhum dos lados neste debate " (NIGTC, pp 1063-1064). 1063–64).