terça-feira, 18 de junho de 2013

A Perpetuidade da Lei de Deus (C. H. Spurgeon) - Parte 02 de 05

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Quão penetrante e humilhante é esta doutrina! Se a Lei do Senhor alcança o interior, quem dentre nós pode, naturalmente, suportar seu julgamento? Quem consegue compreender suas falhas? Purifica-me dos pecados ocultos! Os Dez Mandamentos estão cheios de significado, o qual muitos parecem ignorar. Por exemplo, para muitos que não atentarão para as regras de cuidados com a saúde e higiene, não lhes ocorre que estão menosprezando os mandamentos – “Não matarás.” No entanto, esta regra nos proíbe fazer qualquer coisa que cause dano à saúde do nosso próximo, deste modo privando-o da vida. O grande número de artigos letais fabricados, de lojas mal ventiladas e de negócios com horas de trabalho excessivas são uma brecha permanente deste Mandamento! Eu poderia clamar por menos bebidas alcoólicas, as quais levam tão rapidamente às doenças e à morte e enchem nossos cemitérios com túmulos extemporâneos? Da mesma forma, fazendo referência a outro mandamento; algumas pessoas repetirão músicas e histórias as quais arremetem à impureza, gostaria que isto não fosse tão comum quanto é. Não sabem que uma palavra impura, um sentido dúbio, uma insinuação dissimulada que denota luxúria está sob o Mandamento: “não cometerás adultério?” Vemos aqui uma completa comunhão com o ensino do nosso Senhor Jesus! Oh, não fale comigo sobre o Senhor ter trazido uma Lei mais branda porque o homem não conseguiu guardar os Dez mandamentos – Ele não fez nada parecido! “Em sua mão tem a pá, e limpará a sua eira.” “Mas quem suportará o dia da sua vinda? Porque ele será como o fogo do ourives e como o sabão dos lavadeiros.”
Não ousemos imaginar que Deus nos deu uma Lei perfeita a qual nós, pobres criaturas, não podemos guardar e que, assim, adaptou Sua legislatura e enviou Seu Filho para nos colocar sob uma disciplina menos exigente! Nada do tipo! Ao contrário, o Senhor Jesus mostrou o quão profundamente a Lei De Deus nos cerca e penetra no nosso interior para nos convencer do pecado, mesmo que pareçamos puros no exterior. Ah, esta Lei é elevada! Não consigo alcançá-la! Cerca-me por todos os lados; acompanha-me até minha cama; segue os meus passos e sinaliza meus caminhos onde eu estiver! Em nenhum momento ela cessa de governar e de exigir obediência. Oh Deus, por todos os lados estou condenado, por todos os lados Sua Lei revela meus graves desvios do caminho da justiça e me mostra quão profundamente estou destituído da Sua Glória. Tem misericórdia do Seu servo, pois corro para o Evangelho que fez por mim o que a Lei nunca poderia ter feito -
“Para ver a Lei cumprida em Cristo,
E escutar Sua voz de perdão,
Transformando um escravo num filho,
E uma obrigação numa opção.”
Nosso Senhor Jesus, além de explicar a Lei e evidenciar seu caráter espiritual, tambémrevelou sua essência vivificante, pois quando perguntado: “Qual é o Grande Mandamento na Lei?” Jesus respondeu-lhe: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois Mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.” Em outras palavras, Ele nos disse:“Porque toda a lei se cumpre em um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” Esta é a parte essencial! Alguém pode me afirmar: “Então veja você, ao invés dos Dez Mandamentos, recebemos os dois mandamentos e estes são bem mais fáceis!”.
Respondo que esta interpretação da Lei de Deus não é nem de longe a mais fácil! Uma observação assim implica em falta de visão e de experiência. Estes dois mandamentos englobam os 10 de maneira completa e não apagam dos últimos nem um i ou til. Quaisquer dificuldades em torno dos Dez Mandamentos são também encontradas nos dois grandes, pois são sua soma e essência. Se você ama a Deus de todo o seu coração, você deve guardar a primeira tábua – e se você ama seu próximo como a si mesmo, deve guardar a segunda tábua. Se alguém supõe que a Lei do Amor é uma adaptação da Lei moral à condição caída do homem, incorre em grave erro. Posso afirmar apenas que a suposta adaptação não é mais adaptada a nós do que a Lei original. Se pudesse existir entre eles qualquer diferença em relação ao grau de dificuldade, seria mais simples guardar os 10 do que os dois, porque se não nos aprofundarmos mais do que a letra, os dois são os mais exigentes, visto que lidam com o coração, a alma e a mente.
Os Dez Mandamentos significam tudo que os Dois Grandes Mandamentos exprimem. Porém se ignorarmos este fato e só prestarmos atenção nas palavras usadas, então é mais difícil para o homem amar a Deus com todo o seu coração, com toda a sua alma, com toda a sua mente e com toda a sua força e seu próximo como a si mesmo do que simplesmente não matar, roubar e dar falso testemunho. Cristo, portanto, não anulou nem facilitou a Lei para satisfazer nossa impotência. Deixou nela toda a esplêndida perfeição, como sempre deve ser; e realçou o quão profundos são seus fundamentos, quão elevados são seus cumes, quão incomensuráveis são seus comprimentos e larguras! De maneira semelhante às Leis dos Medas e dos Persas, os mandamentos de Deus não podem ser alterados! Somos salvos por outro meio.
Em vista de mostrar que nunca quis revogar a Lei, nosso Senhor Jesus personificou todos estes Mandamentos na Sua própria vida. Existia, em Sua própria pessoa, uma natureza que se conformava às Leis de modo perfeito e se igualava a Sua vida. Ele pode perguntar: “Quem dentre vós me convence de pecado?” E novamente: “Eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no Seu amor permaneço.” Não diria que foi meticulosamente cuidadoso em guardar a lei de Deus; não colocarei desta maneira, pois Nele não havia tendência para agir de forma contrária, Ele era tão perfeito e puro, tão infinitamente bom e tão completo em Seu entendimento e comunhão com o Pai, que, em todas as coisas, realizou a vontade de Deus.

>>> continua..