terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Conhecimento Sem Zelo (por R. C. Sproul Jr.)

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Quando Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, descreve a igreja como o corpo de Cristo, ele fala com mais sabedoria do que nós, tolos, tendemos a ouvir. Como é o hábito da igreja evangélica moderna, tomamos as plenas, ricas, e de fato, belas instruções sobre como devemos viver nossas vidas juntos para o reino e as reduzimos a algo verdadeiro, mas banal, seguro e razoável. Paulo nos diz que somos o corpo de Cristo, e nós ouvimos: "Sejam legais uns com os outros".

É uma pequena melhoria quando esta mensagem nos lembra de que o corpo está cheio de pessoas diferentes, com diferentes pontos fortes, os quais são necessários. Meus ouvidos não fazem objeção ao fato de que eles não podem ver, e o fato de que meus ouvidos ouvem não os torna melhores do que os meus olhos. Obviamente, Paulo faz sua argumentação pois não importa que parte do corpo nós podemos ser, todos nós carregamos demasiado orgulho. Orelhas podem ter algum nível de gratidão para com os olhos, mas ainda pensam ser eles os principais componentes do corpo. O cérebro pode ser inteligente o suficiente para notar que morreria sem um coração, mas é rápido em apontar a dependência que o coração tem do cérebro. Em suma, todas as partes do corpo carregam a tentação de correr para a linha de frente, esperando ser o maior no reino de Deus.

O que vale para nós individualmente é frequentemente verdadeiro sobre nós quando se trata de grupos. As partes do corpo de um mesmo tipo tendem a reunir-se. Portanto, não devemos nos surpreender que quando os reformados se reúnem, celebramos a importância da mente cristã. Sem denegrir outras partes do corpo, nós reformados reconhecemos que a nossa força peculiar está no pensar através de questões teológicas, com cuidado e precisão. Isso é uma coisa boa. A Reforma, e aquilo que a precedeu, trouxe cuidado e precisão a questões de conseqüências eternas, tais como, como é que somos feitos justos para com Deus? Se você quer uma exposição cuidadosa da natureza da encarnação, você seria sábio em pedir a alguém de um contexto reformado. Somos os escribas da igreja, debruçados sobre os nossos livros empoeirados.

Se, no entanto, você estiver procurando por paixão, por zelo, se você estiver procurando por afeição, você provavelmente não pensaria em considerar os reformados. Nós temos uma mente cheia de conhecimento. Um coração cheio de amor, bem, muitas vezes este não é o nosso caso.

O perigo da metáfora do corpo é que, ao confundir uma metáfora, ela pode tornar-se uma posição confortável. Isto é, ela é útil para nos lembrar de não desprezar os pontos fortes e chamados dos outros. Mas isso pode apenas nos fazer satisfeitos com as nossas próprias fraquezas. O fato de que nós reformados somos bons em teologia, pode fazer com que os outros fiquem confortáveis em serem ruins em teologia. Por outro lado, o fato de que o nosso coração tende a ser morno não é contrabalançado pela paixão dos outros. Obviamente, a triste verdade de que alguns têm zelo sem conhecimento, também não justifica a falta de zelo.

Um não compensa o outro. Ou seja, nós não crescemos em nosso conhecimento diminuindo em nosso zelo. Nem podemos crescer em nosso zelo, diminuindo o nosso conhecimento. Em vez disso, os dois deveriam alimentar e encorajar um ao outro. Considere o apóstolo Paulo. Pedro mesmo, reconheceu que Paulo escreveu algumas coisas difíceis de entender - 2Pe 3:16. Se alguma vez houve um teólogo denso e erudito, Paulo era tal homem. Mas Paulo não escreveu apenas densa teologia. Paulo foi dado a expressões de êxtase, mesmo em suas epístolas. Ele, de vez em quando, caiu em fervor intenso. O que não podemos perder, no entanto, é a ligação entre os dois. Paulo não escreveu teologia árida em 1 Timóteo e prosa mística em 2 Timóteo. Ele não praticou conhecimento na segunda, quarta e sexta-feira e então zelo na terça-feira, quinta-feira e sábado. Em vez disso, seus acessos de louvor fluem logo após, e melhor, diretamente de dentro, de sua densa teologia, e depois são seguidos por teologia ainda mais densa. Ele se move sem problemas da ortodoxia à doxologia e vice-versa, e, portanto, nos ensina que devemos fazer o mesmo. O que o deixa em êxtase é a glória e a beleza das verdades que ele está comunicando. O que faz com que ele seja cuidadoso, atencioso, é a glória de Deus e Seu evangelho sobre o qual ele está escrevendo.

Nossa mente deve instruir nosso coração, da mesma forma que nosso coração deve inspirar nossa mente. Se não estamos emocionalmente chocados, se não somos dados a acessos de êxtase, em última análise, isto não se dá porque nós somos fracos no coração. É porque nós não entendemos, porque somos fracos na mente. A verdade é suficiente para nos dominar, transformar nossos lábios duros em lábios trêmulos. A verdade vista da maneira correta nos torna capazes de ver pela lágrima no nosso olho.O reino de Deus, o qual nos buscamos em primeiro lugar, é digno do nosso estudo. Se, no entanto, nós não celebrarmos sua vinda em consequência disto, nós falhamos em entender o reino. O reino de Deus é digno de celebração. Se, porém, como consequência nós não estudarmos isso, nós falhamos em nos alegrar nisso. Entra na Palavra. E deixe a Palavra entrar em você. Dos tais é o reino de Deus.

Extraído de:
http://www.firelandmissions.com/#!Conhecimento-Sem-Zelo/c12xy/0C5F219B-1562-4E8A-B008-796FBF8E06AD