quinta-feira, 17 de novembro de 2016

AME SEU PRÓXIMO O SUFICIENTE PARA DIZER A VERDADE (por Rosaria Butterfield)

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Uma resposta a Jen Hatmaker [1]

31 de outubro de 2016

Se eu estivesse em 1999 (ano em que fui convertida e que me separei da mulher e da comunidade lésbica que eu amava) em vez de 2016, as palavras de Jen Hatmaker [2] sobre a santidade dos relacionamentos LGBT teriam inundado meu mundo como se fossem bálsamo de Gileade. Como teria sido maravilhoso ter uma pessoa tão radiante, experiente, humilde, gentil e divertida como Jen dizendo em alta voz o que meu próprio coração estava gritando para mim: Sim, eu posso ter Jesus e minha namorada ao mesmo tempo. Sim, eu consigo prosperar tanto em minha área acadêmica (Teoria Queer dos gêneros e Literatura e Cultura Inglesas) como em minha igreja. Minha vertigem emocional conseguiria voltar ao normal mais uma vez.

Talvez eu não precisasse perder tudo a fim de ter Jesus. Talvez o evangelho não fosse me destruir enquanto eu esperava, e esperava, e esperava que o Senhor me reconstruísse após me convencer de meu pecado e depois de eu sofrer suas consequências. Talvez fosse diferente para mim de como foi para Paulo, Daniel, Davi e Jeremias. Talvez Jesus pudesse me salvar sem afligir-me. Talvez o Senhor fosse me dar cruzes respeitáveis (Mateus 16:24), espinhos fáceis de controlar e lidar (2 Coríntios 12:7).

Hoje, eu ouvi as palavras de Jen (palavras com o intuito de encorajar, e não de desencorajar; palavras para construir, e não destruir, para defender as minorias, e não angariar benefícios político-partidários) e elas me fizeram sentir um calafrio. Se eu ainda batalhasse pelo pecado íntimo e arraigado do desejo lésbico, as palavras de Jen teriam amarrado uma pedra de moinho em volta de meu pescoço.

MORTA PARA UMA VIDA QUE EU AMAVA


Para ser bastante clara, eu não fui convertida do homossexualismo; eu fui convertida da incredulidade. Eu não troquei de um estilo de vida para outro; eu morri para uma vida que eu amava.

A conversão a Cristo me fez enfrentar a questão de modo direto: meu lesbianismo refletia quem eu sou (era no que eu cria em 1999) ou, com a queda de Adão, meu lesbianismo distorcia por completo quem eu sou? Por meio da conversão eu aprendi a maneira peculiar do pecado de Adão marcar minha vida, isto é, quando algo parece certo, correto, bom, verdadeiro e necessário mas, ao mesmo tempo, vai contra a Palavra de Deus. Nosso pecado naturalmente nos engana. O engano do pecado não está apenas “no lado de fora”, mas também nas profundezas das cavernas de nossos corações.


Como eu me sinto não me diz quem eu sou. Somente Deus pode dizer quem sou eu, pois Ele me criou e cuida de mim. Ele me diz que todos nós nascemos como portadores do sexo masculino ou feminino, com almas eternas e com corpos distintos por gênero, que sofrerão eternamente no inferno ou que serão glorificados na Nova Jerusalém.

Gênesis 1:27 me diz que existem implicações morais e linhas divisórias relacionadas ao nascer homem ou mulher. E quando eu digo essa mesma frase anterior em campi universitários, manifestos estudantis, vindos mesmo daqueles que se dizem cristãos, me aparecem aos montes. Me dizem que afirmar responsabilidades morais de se nascer homem ou mulher é agora discurso de ódio.

Chamar a ética sexual dada por Deus de discurso de ódio é concordar com as ideias de Satanás. Pensar assim é como um absurdo orwelliano [3] ou coisa pior. Eu só saberei quem eu realmente sou quando a bíblia for minhas lentes para autorreflexão e quando o sangue de Cristo bombear tão poderosamente todo o meu coração a ponto de eu conseguir negar a mim mesmo, tomar minha cruz e segui-Lo.

Não há boa vontade entre a cruz e a pessoa não-convertida. A cruz não tem compaixão. Tomar sua cruz significa morrer. Como A. W. Tozer disse, carregar uma cruz quer dizer que você vai embora para nunca mais voltar. A cruz simboliza o significado de morrer para si mesmo. Nós morremos para que possamos nascer de novo em e através de Jesus, por meio do arrependimento de nosso pecado (mesmo dos que não escolhemos [nos arrepender]) e da fé em Jesus, o autor e consumador de nossa salvação.

O poder sobrenatural que é dado no novo nascimento significa que onde um dia eu tinha um único desejo (cujas palavras dizem se algo parece bom, então deve ser quem eu realmente sou) agora tenho desejos gêmeos, que guerreiam dentro de mim: “Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis.” (Gálatas 5:17). E essa guerra não acabará até chegarmos à Glória.

Vitória sobre o pecado significa que nós temos a companhia de Cristo em meio à batalha, e não que estamos lobotomizados. Meus pecados cometidos com vontade e por opção sabem meu nome e endereço. E esta mesma verdade se aplica a você [também].

A CRUZ NUNCA FAZ ALIANÇA COM O PECADO


Poucos anos atrás, eu estava palestrando numa grande igreja. Uma mulher mais velha esperou até o comecinho da noite para vir até mim. Ela me contou que tinha 75 anos, que tinha sido casada com uma mulher durante 50 anos e que ela e sua parceira tinham filhos e netos.

Depois aquela senhora disse uma coisa arrepiante. Com um tom baixo de voz, ela sussurrou “Eu ouvi o evangelho, e entendi que talvez eu perca tudo. Por que ninguém me disse isso antes? Por que as pessoas que amo não me disseram que algum dia eu teria de fazer uma escolha como essa?”. Eis uma boa pergunta. Por que uma pessoa não diz a sua querida portadora da mesma imagem que ela não poderia ter amor ilícito e o evangelho ao mesmo tempo? Por que ninguém, ao longo de todas essas décadas, disse a esta mulher que o pecado e Cristo não podem habitar juntos, pois a cruz nunca se torna aliada do pecado, o qual ela deve esmagar, visto que Cristo tomou nossos pecados sobre Si e pagou o resgate pelo custo terrível cobrado por ele?

Todos nós temos falhado miseravelmente em amar nossos companheiros de imagem que se identificam como parte da comunidade LGBT, companheiros de imagem que estão enganados pelo pecado e por um mundo odioso que aplica o engano de categoria da identidade e orientação sexuais como um laço. E todos nós continuamos falhando miseravelmente. Do lado bíblico, temos frequentemente falhado em oferecer relacionamentos amorosos e em abrir portas aos nossos lares e corações, abertura esta [que deve ser] tão sem obstruções que seremos tão firmes em relacionamentos amorosos quanto somos nas palavras que empunhamos e manejamos. Nós também temos falhado em discernir a verdadeira natureza da doutrina cristã do pecado, pois quando defendemos leis e políticas que abençoam os relacionamentos que Deus chama de pecado, nós estamos agindo como se nos achássemos mais misericordiosos do que Deus é misericordioso.

Que Deus tenha misericórdia de todos nós.

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Tradução: Cesare Turazzi

N. T.: Em português, temos o livro “Pensamentos secretos de uma convertida improvável” desta autora, traduzido pela Editora Monergismo.

[1] Jen Hatmaker é uma americana evangélica autora de livros, escritora em blogs e revistas,conferencista e apresentadora de TV.

[3] “Orwerllianismo”, vindo de George Orwell. Neologismo utilizado para definir práticas sociais autoritárias ou totalitárias.