sábado, 7 de maio de 2016

A impecabilidade e a plena humanidade de Jesus Cristo

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As Escrituras apresentam Jesus de maneira clara como um ser plenamente humano e plenamente divino. Ele é uma só pessoa, mas possui duas naturezas: uma humana e outra divina.

A declaração da humanidade plena de Cristo é essencial para a fé cristã. Tanto que o apóstolo João condena severamente aqueles que negam "que Jesus Cristo veio em carne" (1 João 4.2; veja também 2 João 7). Essas palavras foram dirigidas a uma forma antiga da heresia conhecida como docetismo (do termo grego dokeo, "parecer"). Os docetistas ensinavam que Jesus era divino (porém não o próprio Deus), mas que apenas parecia humano. Alegavam que era uma espécie de fantasma, um mestre que, na verdade, não viveu e morreu como ser humano.

As Escrituras deixam claro que Jesus era um homem. Ele experimentou limitações humanas como a fome (Mateus 4.2), o cansaço (João 4.6) e o desconhecimento de certos fatos (Marcos 13.32; Lucas 8.45-47). Experimentou a dor do choro (Jo ão 11.35,38), da aflição (Marcos 14.32-42; Lucas 12.50; Hebreus 5.7-10) e do sofrimento na cruz (Mateus 27.46; Marcos 15.34). 

Uma vez que era divino, Jesus não podia pecar; mas, uma vez que era humano, ainda podia ser verdadeiramente tentado (Hebreus 4.15). 

O Novo Testamento ensina repetidamente que Jesus não teve absolutamente nenhum pecado (João 8.46; 2 Coríntios 5.21; Hebreus 4.15; 1 Pedro 2.11; 1 João 3.5). A natureza moral de Jesus não estava sujeita aos efeitos da queda de Adão, sendo, portanto, semelhante à natureza de Adão antes do seu pecado. Jesus amava a lei de Deus e guardou-a perfeitamente.

Jesus precisava ser sem pecado por vários motivos. 
Em primeiro lugar, a impecabilidade de Jesus era necessária para que Ele pudesse ser um substituto adequado para todos os pecadores ao morrer na cruz. Se não tivesse sido um “cordeiro sem defeito e sem mácula”, Seu sangue não teria sido “precioso” (1 Pe dro1.19) aos olhos de Deus.

Em segundo lugar, ao viver uma vida em conformidade ativa e absoluta com a lei de Deus, Jesus obteve o direito de Se assentar no trono de Davi para sempre (Salmos 89 e 132; Mateus 1.1). Desse modo, ao reinar sobre tudo em nosso favor, também garante a nossa salvação.

Em terceiro lugar, a justiça ativa de Cristo torna os cristãos justificados diante de Deus. Além de serem perdoados de seus pecados pela expiação de Cristo, os cristãos também são “feitos justiça de Deus” (2 Coríntios 5.21), pois a justiça de Cristo lhes é imputada pela fé no salvador. Quando os cristãos estão em Cristo, Deus o Pai os vê da mesma maneira como vê o Seu filho sem pecado.

Em quarto lugar, Jesus enfrentou e venceu a tentação para Se tornar nosso sumo sacerdote compassivo diante do Pai nos lugares celestiais. Ele foi “tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hebreus 4.15). Isso significa que enfrentou todos os tipos de tentação que nós enfrentamos, mas não se entregou a nenhuma delas; antes, resistiu mesmo em meio à agonia do Getsêmani e da cruz.
Podemos inferir pela experiência no Getsêmani que as Suas lutas contra as tentações foram, por vezes, mais intensas e agonizantes do que jamais conseguiremos imaginar (Mateus 26.36).

A impecabilidade de Jesus diante da tentação fez dEle o nosso sumo sacerdote perfeitamente solidário e garantiu o Seu direito de nos representar permanentemente diante do Pai (Hebreus 5.9-10; 7.25-8.13).

O livro de Hebreus enfatiza que se a humanidade de Jesus não fosse plena, Ele não seria qualificado para nos ajudar a atravessar as tribulações da existência humana (Hebreus 2.17-18; 4.15-16; 5.2,7-9). Mas, devido à Sua experiência humana, Ele garante que em todas as nossas dificuldades, podemos estar certos de Sua intercessão compassiva por nós diante do Pai (Hebreus 7.25).

Infelizmente, muitos cristãos bem-intencionados se concentram de modo excessivo na divindade de Jesus, a ponto de quase excluírem a Sua humanidade crendo que, com isso, estão honrando ao Senhor. Formas atuais da heresia antiga do monofisitismo (a ideia de que Jesus possuía apenas uma natureza) também tendem a minimizar o fato de que Jesus foi plenamente humano. Há quem suponha que Jesus apenas fingiu ignorar certos fatos; afinal, Ele era divino e onisciente (sabia todas as coisas). Do mesmo modo, há quem negue que Jesus de fato sentia fome e cansaço, crendo que Sua divindade energizava o Seu corpo humano de modo contínuo e sobrenatural.

No entanto, a doutrina bíblica da encarnação afirma que o Filho de Deus viveu Sua vida divina-humana na Sua mente e no Seu corpo humano e por meio deles em todas as áreas, maximizado a Sua identificação com aqueles que Ele havia vindo para salvar, bem como a Sua empatia.

A ideia de que Jesus alternava essas duas naturezas, ora agindo em Sua humanidade, ora em Sua divindade, também é equivocada. Ele suportou todo o Seu sofrimento, incluindo a agonia da cruz, e morreu na unidade de Sua pessoa divina-humana. Não obstante, alguns atos e características de Jesus podem ser atribuídos corretamente à Sua natureza divina, e outros à Sua natureza humana. O Concílio de Calcedônia (451 d.C.) expressou essa doutrina como "a propriedade peculiar de cada natureza preservada e unida em uma só pessoa e subsistência" (PNPN 2, vol. 14, p. 265). Por exemplo, enquanto em Sua humanidade Jesus desconhecia certos fatos, em Sua divindade Ele era, ao mesmo tempo, onisciente — por mais difícil que seja de entendermos como isso era possível.

O reconhecimento da humanidade plena de Jesus é essencial para a fé cristã devido ao papel especial conferido por Deus aos seres humanos como portadores de Sua imagem. A humanidade foi designada como o meio pelo qual aprouve a Deus demonstrar a Sua glória e estender o Seu reino sobre toda a terra. Mesmo depois da queda em pecado, Deus ainda declarou que os descendentes de Eva esmagariam os descendentes da serpente sob os seus pés (Gênesis 3.15). Essa promessa antiga se cumpriu em Jesus, pois Ele foi um ser plenamente humano que serviu a Deus fielmente e recebeu como recompensa um nome que está acima de todo nome. Por meio de Cristo, a vitória da humanidade sobre o mal está assegurada.



- Conteúdo extraído da Bíblia de Genebra.