quarta-feira, 4 de maio de 2016

O BATISMO INFANTIL: Objeções e Respostas (por João Calvino) - parte 06 de 06

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13º. CITAÇÃO DE ATOS 19.1-7.

Os nossos oponentes se esforçam igualmente para apoiar-se no exemplo que temos em Atos, capítulo dezenove. Lemos ali que o apóstolo Paulo rebatizou alguns discípulos em Éfeso, os quais já tinham sido batizados por João. Rebatizou-os porque eles não tinham sido suficientemente instruídos sobre o Espírito Santo. Com esse fato os tais se empenham em mostrar que, se pela ignorância daqueles discípulos o seu primeiro Batismo não teve valor, por mais forte razão o Batismo das criancinhas deverá ser considerado nulo, visto que lhes falta o devido entendimento. 

Mas, se a explicação deles fosse válida, cada um de nós precisaria de um rio para se rebatizar, porque, quem de nós não reconhece em si diariamente grande e grosseira ignorância em múltiplas formas? A cada reconhecimento de alguma ignorância cada um precisaria correr em busca de rebatismo, tendo sido anulado o anterior. Portanto, deixando de lado essas absurdidades totalmente ridículas, busquemos o sentido correto da citada passagem. Alguns explicam que a afirmação de que o apóstolo Paulo os batizou “em o nome do Senhor Jesus” não significa outra coisa que não a ministração de ensino. Embora essa explicação se harmonize com a maneira de falar da Escritura, não obstante apresentarei outra, mais própria, que espero demonstrar claramente, de molde a receber a aprovação de todos.

Não é novidade que o recebimento das graças visíveis do Espírito Santo, como as que eram dadas naquele tempo, recebiam na Escritura o nome de Batismo. Como quando se diz que o Senhor batizou os Seus apóstolos ao lhes enviar o Seu Espírito para lhes conferir tais graças. Ora, conforme a narrativa, o apóstolo Paulo interrogou os discípulos se tinham recebido as graças do Espírito, e eles responderam que nem sequer sabiam da existência do Espírito. Razão pela qual os batizou em nome de Jesus. Não com água, mas como os apóstolos foram batizados no dia de Pentecostes. O que é comprovado pelo procedimento seguido, porquanto, o que logo em seguida se diz, “E, impondo-lhes as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo”, é uma declaração expressa e explícita desse Batismo. Isso corresponde ao hábito da Escritura de apresentar resumidamente uma coisa e depois declará-la mediante narração mais ampla.

Caso contrário, o apóstolo Paulo teria agido contra a razão, rebatizando por causa de ignorância, visto que os próprios apóstolos, depois de terem sido batizados, revelaram tal ignorância e rudeza de conhecimento que pouco ou quase nada sabiam do poder de Jesus Cristo. Mas não temos necessidade de preocupar-nos com isso demoradamente, visto que se deve entender a referência ao Batismo no sentido da imposição das mãos, pela qual o Espírito Santo lhes foi dado.

14º. SE OS PEQUENINOS DEVEM SER BATIZADOS, POR QUE NÃO DEVEM RECEBER A CEIA?

Eles objetam que pelo mesmo motivo a Ceia do Senhor deveria ser ministrada aos pequeninos, os quais não queremos permitir que dela participem. Como se a diferença entre uma coisa e outra não estivesse expressamente assinalada na Escritura, e em todos os aspectos! Porque, se considerarmos a natureza e as características do Batismo, veremos que este sacramento é o primeiro ingresso que temos para sermos reconhecidos como membros da igreja, e para termos lugar entre os que compõem o povo de Deus. Isso porque ele é o símbolo e sinal da nossa regeneração e do nosso nascimento espiritual, que constituem o ato de Deus pelo qual somos feitos Seus filhos. Diversamente, a Ceia foi ordenada para
aqueles que, tendo passado pela primeira infância, estão aptos a nutrir-se de alimento sólido. Disso a Palavra de Deus nos dá evidente prova. Porque, quando fala do Batismo, ela não faz nenhuma distinção de idade, mas não permite que a Ceia seja comunicada senão aos que podem discernir o corpo do Senhor, podem examinar-se e comer, e podem anunciar a morte do Senhor. Vamos querer palavras mais claras que essas? “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice” (1 Coríntios 11.28). É necessário, pois, que o participante faça exame de consciência antes de comer do pão e beber do cálice. Também diz o texto bíblico: “Aquele que comer o pão ou beber o cálice, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor”. Se não se pode participar dignamente sem prévio exame próprio, por que haveríamos de submeter as nossas crianças a juízo e condenação ministrando a elas a Ceia? Diz mais a Escritura: “Fazei isto em memória de mim... Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha”. Como poderiam anunciar a morte do Senhor os bebês, que ainda não conseguem nem falar?

Nada disso se requer para o Batismo. Portanto, é grande a diferença existente entre estes dois sinais, ocorrendo o mesmo sob o Antigo Testamento com os dois sinais que correspondem ao Batismo e à Ceia. Porque a Circuncisão, que se
ministrava em lugar do Batismo, era aplicada aos bebês, mas do cordeiro pascal, em lugar do qual temos agora a Ceia, só participavam os filhos capazes de perguntar pelo seu sentido (Êxodo 12.26). Se aquela pobre gente que apresenta estas objeções tivesse alguma capacidade de apreciação do que diz a Palavra de Deus, não seria tão cega ao ponto de não perceber estas coisas, que em si mesmas se mostram tão claramente e a olhos vistos.

CONCLUSÃO E ADVERTÊNCIAS FINAIS SOBRE O ANTIPEDOBATISMO 


Como se pode ver, o que dissemos é suficiente para mostrar como os nossos oponentes, sem razão nem propósito, perturbam a igreja do Senhor agitando questões e debates, com o fim de contestar a santa observância que sempre, desde os apóstolos, tem sido cumprida pelos crentes.

Visto que provamos com fartas evidências que o Batismo infantil tem firme e seguro fundamento na Escritura Sagrada e que, por outro lado, refutamos com muitos argumentos todas as objeções que costumam levantar contra ele, não temos dúvida de que todos os fiéis servos de Deus, após terem lido este tratado, estarão plenamente satisfeitos, e com seus próprios olhos perceberão que todos os ataques feitos para destruir e abolir esta santa ordenança não passam de astutas maquinações do Diabo. Com isso ele quer enfraquecer a consolação que o Senhor nos quis dar por meio da Sua promessa e obscurecer a glória do Seu nome, glória que é tanto mais exaltada quanto mais amplamente Ele derrama as Suas misericórdias sobre os homens. Porque, quando o Senhor visivelmente nos testifica com o sinal do Batismo que por amor a nós Ele leva em consideração a nossa posteridade, não temos nós forte motivo para regozijar-nos, a exemplo de Davi? Pois isso nos leva a apreciar o fato de que o Senhor assume para conosco a pessoa de um bom pai de família, estendendo a Sua providência não somente sobre nós, mas também sobre os nossos descendentes, após a nossa morte. Nesse regozijo paterno Deus é glorificado singularmente.

Eis por que Satanás se esforça para privar os nossos filhos da comunicação do Batismo: é para que este atestado que o Senhor ordenou para nos confirmar as graças que nos quer dar, tendo sido eliminado de diante dos nossos olhos, pouco a pouco nos esqueçamos também da promessa que Ele nos fez com relação aos nossos filhos. Resultariam daí, não somente uma ingratidão e uma incompreensão da misericórdia do Senhor para conosco, mas também a negligência em instruir os nossos filhos no temor e na disciplina da Sua Lei, bem como no conhecimento do Seu Evangelho. Porque não é pequeno aguilhão, ótimo para nos estimular a cultivar neles a verdadeira piedade e a obediência a Deus, entender que, desde o nascimento dos nossos filhos, o Senhor os recebeu no seio do Seu povo, como membros da Sua igreja. Então, não rejeitando a grande benignidade do nosso Senhor, apresentemos a Ele, confiantes, os nossos filhinhos, aos quais Ele deu, por Sua promessa, ingresso à companhia daqueles que Ele admite como seus familiares e domésticos em Sua casa, que é a igreja cristã.




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Extraído do 3º volume das "Institutas da Religião Cristã", edição especial para estudo e pesquisa com notas de Hermisten Maia Pereira da Costa (Editora Cultura Cristã).